quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Como se orientavam os primeiros navegantes?


As aves possuem um maravilhoso instinto de orientação que está vedado à espécie humana. O homem não saberia orientar-se se, carecendo dos aparelhos que para isso se têm inventado, o situássemos numa planície deserta ou na imensidade dos mares, onde não encontrasse um ponto de referência.


Sabemos que, com o auxílio da agulha náutica, cruza o marinheiro os mares duma para outra parte do globo com precisão matemática; que também serve a bússola para determinar o caminho conveniente se pretendêssemos atravessar os imensos areais dos desertos do Sahara ou da Arábia. Mas tão úteis instrumentos, ainda que date o seu uso de era remotíssima, não existiam, sem dúvida, na época das primeiras navegações. Se isso foi assim como se orientariam no mar os primeiros aventureiros que se atreveram a sulcá-lo?

Primeiras navegações


Segundo o testemunho assente dos historiadores, foram os fenícios os primeiros navegantes: povo eminentemente produtor e comerciante, não é de estranhar que, impelido pela necessidade de expansão, surgissem dele os iniciadores da navegação, que, anos mais tarde, devia unir entre si os povos e confundi-los numa comum civilização.
Naquela época isto representava uma proeza que só podia ser levada a cabo pelos povos superiores. O perigo não estava só nos temporais que nos aterram ainda hoje, navegando nas modernas moles transatlânticas, tôdas solidez, luxo e confôrto; nem nos furacões que faziam naufragar facilmente as frágeis canoas, mas também em que os perigos mais terríveis nasciam na imaginação daquelas gentes como fruto das superstições religiosas da época. Segundo aqueles seres, as águas do mar, que por isso eram amargas, achavam-se coalhadas de sereias, ninfas, tritões e demais monstros aquáticos, que devoravam sem compaixão o ser humano que se atrevesse  a profanar, penetrando no seu elemento, o segrêdo das suas impúdicas leviandades. De bôca em bôca, contadas e acreditadas cegamente, divulgavam-se tôdas estas lendas tenebrosas…
Os primeiros navegantes transferiam-se, por isso, de um para outro país, ao amparo das costas, que não se atreviam a abandonar por temor do misterioso influxo das fascinantes nereidas.
Os pontos de referência que iam descobrindo, os acidentes das costas, os montes elevados, a variada vegetação, o desaguamento dos rios eram conhecimentos preciosos que se gravavam em sua mente para as próximas expedições e, assim, em cada viagem, navegavam com mais segurança, devido à acumulação de dados obtidos em anteriores expedições.

Sempre mais longe…



Dêste modo, foi decorrendo o tempo, sem que experimentassem a necessidade de inventar melhores meios de orientação.
Mas esta necessidade surgiu por fim: já não bastavam aos fenícios as costas do Mediterrâneo para as suas expedições. Mais que o desejo de expansão, o afã aventureiro levou aquelas gentes muito longe, mais longe de onde lhes parecia que terminava o Mundo. Existem dados históricos de navegações efectuadas pelos fenícios até ao Golfo da Guiné. Ainda que não saibamos a forma em que tais viagens se realizaram, poderia supôr-se que as fizessem sem perder de vista a costa. Mas contra essa  suposição está o facto de que, numa navegação longa como aquela, o embate dos ventos e das ondas e correntes marinhas do Atlântico dominariam as frágeis embarcações e a vontade férrea daqueles titãs.
E, uma vez internados num mar sem limites, rodeados de um imenso círculo de água que, além nos longes, se confunde com o céu, como se arranjariam para voltar às costas perdidas de vista?...
Aqueles homens, à falta de uma cultura que não podiam possuir, tinham engenho e talento naturais. Não poderia assegurar-se, entretanto que os fenícios, na sua viagem à Guiné, tivessem usado o simples sistema que vai expôr-se para averiguarem de que lado estava a terra; mas, estando enraizado o processo entre os primeiros navegantes, que nas suas incursões chegaram até aos países do Norte da Europa, muito posteriores aos fenícios, nada aventurado resulta o juízo, atendendo a que a origem do sistema pode atribuir-se a um episódio bíblico: aquele em que Noé, quando o diluvio universal tinha submergido o Mundo, lançou da sua arca uma pomba para que explorasse o estado do tempo…

Aves de exploração


Imitando Noé, aqueles primitivos navegantes, que desconheciam ainda as vantagens da agulha magnética, embarcavam corvos e, quando a incerteza de encontrarem a terra que tinham abandonado os embargava; soltavam um e observavam a direcção que empreendia. Se não regressava, podia deduzir-se que, seguindo o caminho do corvo, encontrariam terra em tempo relativamente curto. Outros corvos rectificavam ou ratificavam a direcção que seguiam, e já não cessavam de lança-los até que chegavam finalmente à vista de terra firme.
Reconhecido o terreno, observavam, mediante a direcção dos raios solares, a sua situação com respeito ao ponto da sua partida; examinavam detidamente, para que ficassem gravadas em sua mente, as irregularidades das costas e adquiriam, enfim, conhecimentos geográficos práticos, muito benéficos para o feliz êxito das posteriores excursões às mesmas paragens.
Entregues os fenícios à navegação, foi-lhes preciso, para poderem praticá-la com relativa segurança, adquirir, em Astronomia, Geometria e Matemáticas, conhecimentos superiores aos que possuíam  os demais povos.

A Bússola

Naquele tempo era o Império Chinês o que possuía uma cultura mais sólida e uma maior civilização.
Tinham os chineses realizado importantes inventos, que não se generalizavam, por um lado, pelas dificuldades de comunicação entre os povos, por outro, pela grande aversão que os chineses sentiam pelos naturais dos outros países. Conheciam êles, de longa data, a propriedade do íman e, quando conheceram a sua polaridade, tiraram disso inúmeras e úteis consequências.
Há historiadores que afirmam que os povos do Oriente, nas suas viagens marítimas através do Oceano Índico, durante os primeiros séculos da era cristã, já usavam bússola. E Destres comenta que, dez séculos antes de J.C., para caminharem pelas áridas terras da Tartária, se orientavam por meio de uma balança magnética que «semelhava uma figura humana, um dos braços indicando constantemente o sul».
Não obstante, datam do século XII as primeiras notícias que da existência dêste aparelho têm os povos do Oriente. Parece incrível que, sendo a bússola conhecida de recuados tempos pelos orientais, tardasse tantos séculos em propagar-se aos outros povos.

Caminho aberto!


A primeira bússola empregada pelos povos do Ocidente foi uma agulha magnetizada, a que davam o nome de «Pedra Marinheira» e era usada pelos navegantes do Mediterrâneo. A agulha flutuava num recipiente de água sôbre um pedacito de cortiça, indicando sempre o mesmo ponto do horizonte, e era igual á que usavam os navegantes do mar da Síria.
Mais tarde, no século XIII, um napolitano chamado Flavio Gioja, que efectuou frequentes viagens pela Arménia e pelo Japão, viu a aplicação que na Ásia davam à propriedade do íman e aperfeiçoou notavelmente a bússola. Por isso algumas vezes o navegante napolitano é apontado como inventor de tão importante instrumento.

Fonte: Revista Ver e Crer nº3 (Julho 1945)
Autor: Desconhecido
Fotos da Revista e da Net
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