segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A Longa História do Turbante


A quem associaria o turbante? A Carmem Miranda? Ao islão? A um tuaregue? Provavelmente, escolheria uma destas três opções, embora ninguém se bata por ele como os Sikhs mais devotos. Na cidade de Amritsar, no Punjab indiano, a capital espiritual dos sikhs, já se celebra inclusive o Dia Mundial Do Turbante.
O 13 de Abril é um dia grande para o turbante. E faz sentido: os homens da religião sikhs, e também algumas mulheres, foram proibidos de cortar o cabelo pelo seu 10º líder espiritual, mais conhecido por Guru Gobind Singh, em 1699. Desde então o turbante (ou dastar), usado para esconder o cabelo, ganhou um valor transcendental. Simboliza, entre outros conceitos, honra, amor-próprio, espiritualidade, coragem, piedade.


Metade dos 23 milhões de sikhs ainda usam diariamente o dastar, mas os jovens começam a deixá-lo. Os  sikhs mais novos dizem que oito metros de pano são demasiado pesados para jogar críquete, já para não falar do sonho de se parecerem com as estrelas de Bollywood, que usam cabelos ao vento. Também há argumentos menos pessoais: países como a França proíbem símbolos religiosos nas escolas; os turbantes impedem a utilização de capacetes e geram contra tempos com a segurança nos aeroportos; e há conotações com os talibãs e o território islâmico.


Em matéria de turbantes, há um antes e um depois do 11 de Setembro. Nessa semana de 2001, Amrik Singh Chawla foi espancado numa estação de metro dos Estados Unidos, enquanto lhe chamavam terrorista e o ameaçavam de morte, só porque usava um dastar.
Muito antes, em 31 de Outubro de 1984, o mundo pôde perceber até que ponto  um sikh está disposto a vingar a sua honra. Dessa vez, a vítima foi a primeira –ministra indiana Indira Gandhi, assassinada por dois dos seus guarda-costas de origem sikh, num acto de vingança depois da operação Estrela Azul (as tropas tentaram erradicar a comunidade sikh do templo do Ouro de Amritsar, acabando por matar muitos civis).
Mas nem todas as notícias relacionadas com o dastar são negativas. No Reino Unido, por exemplo, investigadores estão a tentar criar um turbante à prova de bala, o que permitiria a  muitos sikhs servir nas Forças armadas. Outra iniciativa é o concurso bianual Mr. Singh Internacional – eleição dos turbantes sikh mais elegantes. Os panos vão-se  metamorfoseando á medida que o cabelo do dono vai crescendo. 
 
Retrato de Homem - Jan Van Eyck 1433

No festival pró-turbante acontece um pouco de tudo. Há protestos, competições, rezas e vigílias. O objectivo é sempre o mesmo, como apregoa Jaswinder Singh, líder do Akaal Purkh Ki Fauj, um movimento de turban pride (literalmente: orgulho turbante): “Convidamos todos os sikhs que abandonaram o turbante a voltar a ele.”
Entre os sikhs, todos os homens são baptizados com o apelido Singh (Leão); as mulheres são Kumari (princesas). Por isso o líder espiritual desta religião monoteísta, Singh Sahib Giani Gurbachan Singh Ji, adverte: “Um turbante grande pode dificultar o críquete, mas um sikh sem turbante é como um leão sem juba.”

Fonte: Revista Visão
Texto: João Lopes Marques
Foto da net
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð

Sem comentários:

Enviar um comentário