(Prémio Nobel da Física 1901)
Wilhelm Conrad Röntgen
(Lennep, 27 de março de 1845 — Munique, 10 de fevereiro de 1923) foi um físico
e engenheiro mecânico alemão. Em 8 de novembro de 1895, produziu e detectou
radiação electromagnética nos comprimentos de onda correspondentes aos
atualmente chamados raios-X.
Por essa descoberta
recebeu o seu primeiro Nobel de Física, em 1901. Em 2004, em reconhecimento a
seus feitos científicos, a União Internacional de Química Pura e Aplicada
(IUPAC) nomeou o elemento químico 111 de roentgênio.
Primeiros anos e
educação
Wilhelm nasceu em 1845
em Lennep, uma província alemã no baixo Reno. Era filho único de mãe holandesa,
Charlotte Constanze Frowein, e pai alemão, comerciante e tecelão. Estudou em
Utrecht, na Holanda, para onde a família se mudou quando Wilhelm tinha 3 anos
de idade. As suas notas eram regulares, dentro da média, mas ele apresentou uma
curiosidade para as ciências naturais, gostando de passear pelos bosques da
cidade.
Casa onde nasceu
Roentgen, em Remscheid-Lennep
Também gostava de
mecânica, criou intrincados mecanismos, algo pelo qual manteve a prática na vida
adulta. Em 1862, entrou na escola técnica de Utrecht, de onde foi injustamente
expulso por ter feito uma caricatura de um de seus professores, que na verdade
fora feito por outro colega.
Sem um diploma de
ensino médio, ele só pode cursar a universidade como visitante. Em 1865, tentou
ingressar na Universidade de Utrecht sem a documentação necessária para ser
matriculado como aluno regular. Depois de saber que ele poderia ingressar no
instituto politécnico de Zurique e de ser aprovado na admissão, ele passou a
cursar engenharia mecânica.
Como aluno em Zurique,
estudou com August Kundt e Rudolf Clausius, que foram duas grandes influências
em seu trabalho. Em 1869, obteve o Ph.D., pela Universidade de Zurique, onde
estudou mais uma vez com Kundt, que seguiu até a Universidade de Estrasburgo.
Vida pessoal
Em 19 de janeiro de
1872, Wilhelm casou-se com Anna Bertha Ludwig (1839-1919), sobrinha do poeta
Otto Ludwig, em Apeldoorn, na Holanda. Os dois namoravam desde os tempos de
estudante de Wilhelm em Zurique. O casal não teve filhos, mas em 1887 eles
adoram Josephine Bertha Ludwig, então com 6 anos de idade, filha do único irmão
de Anna. Anna morreu em 1919, apenas 4 anos antes do marido.
Carreira
Em 1874, ingressou como
professor assistente na Universidade de Estrasburgo e em 1875 tornou-se
professor titular de agricultura na Universidade de Hohenheim. No ano seguinte
voltou para Estrasburgo como professor titular de física, mas três anos depois
aceitou a cadeira de Física na Universidade de Giessen. Por várias vezes,
Wilhelm recusou vagas semelhantes em outras universidades, até que aceitou a
proposta da Universidade de Würzburgo em 1888. Em 1899 recusou a cadeira de
física na Universidade de Leipzig, mas em 1900 aceitou a mesma cadeira na
Universidade de Munique depois de um pedido especial feito pelo governo da
Baviera, para substituir o professor Eugen von Lommel.
Wilhelm ficou na
Universidade de Munique pelo resto da vida, tendo recusado a direção do
Physikalisch-Technische Bundesanstalt (PTB) e a cadeira de física da Academia
das Ciências de Berlim. Wilhelm tinha família vivendo em Iowa, nos Estados
Unidos e tinha planos para imigrar. Chegou a aceitar um cargo na Universidade
Colúmbia, em Nova Iorque e chegou a comprar as passagens de navio, quando a
eclosão da Primeira Guerra Mundial atrapalhou os seus planos e ele acabou por
permanecer em Munique até o fim da vida.
O seu primeiro trabalho
foi publicado em 1870, falava sobre o ponto de aquecimento específico de gases.
Alguns anos depois, publicou um trabalho sobre a condutividade térmica dos
cristais. Estudou características eléctricas do quartzo, a influência da
pressão nos índices de refração de vários fluídos, a modificação dos planos da
luz polarizada por influências eletromagnéticas, variações de temperatura e de
compressão da água e de outros fluídos e o fenômeno que se segue após o
espalhamento de gotas de óleo na água.
Os raios-X
Placa na entrada do
Museu Röntgen
Em 1895, Wilhelm
testava equipamentos desenvolvidos pelos seus colegas Heinrich Hertz, Johann
Wilhelm Hittorf, William Crookes, Nikola Tesla e Philipp Lenard, quando foi
atingido por uma descarga elétrica. No início de novembro, ele estava a repetir
uma experiência com um dos tubos de Lenard em que uma fina camada de alumínio
foi adicionada para permitir que os raios catódicos saíssem do tubo, mas uma
cobertura de papelão foi adicionada para proteger o alumínio de danos causados
pelo forte campo eletrostático que produzia os raios catódicos. Ele sabia que a
cobertura de papelão evitava que a luz escapasse, mas Wilhelm observou que os
raios invisíveis causavam um efeito fluorescente em uma pequena tela de papelão
pintada com platinocianeto de bário quando era colocado próximo à janela
alumínio. Wilhelm percebeu que o tubo Crookes-Hittorf, que tinha uma parede de
vidro muito mais espessa do que o tubo Lenard, também poderia causar esse
efeito fluorescente.
Aparelho de Roentgen,
em 1937.
Em 8 de novembro de
1895, Wilhelm estava determinado a testar sua ideia. Ele cuidadosamente
construiu uma camada de papelão preta semelhante à que ele havia usado no tubo
de Lenard. Cobriu o tubo de Crookes-Hittorf com o papelão e conectou os electrodos
a uma bobina de indução para gerar uma carga eletrostática. Antes de montar a
tela de platinocianeto de bário para testar sua ideia, Wilhelm escureceu a sala
para testar a opacidade de sua capa de papelão. Ao passar a carga da bobina
através do tubo, Wilhelm determinou que a tampa estava protegida da luz e
preparou o próximo passo do experimento. Foi quando ele notou um brilho fraco
vindo de um banquinho há poucos metros do tubo. Para se certificar, ele tentou
várias descargas, vendo o mesmo brilho todas as vezes. Ele então descobriu que
o brilho vinha da tela de platinocianeto de bário que ele pretendia usar em
seguida.
Wilhelm se perguntava
que tipo de raio estaria por trás do brilho. O dia 8 de novembro era uma
sexta-feira, então ele aproveitou o final de semana para repetir seus
experimentos e fazer anotações. Nas semanas seguintes, ele praticamente viveu
dentro do laboratório para investigar as propriedades dos novos raios que
descobriu, que apelidou temporariamente de "raios-X", usando a
notação matemática ("X") para o desconhecido. Em vários idiomas, os
novos raios levariam seu nome.
Em um determinado
momento, enquanto investigava a capacidade de vários materiais de deter os
raios, Wilhelm colocou um pequeno pedaço de chumbo em posição enquanto a
descarga acontecia. Wilhelm viu então a primeira imagem radiográfica, seu
próprio esqueleto cintilando na tela de platinocianeto de bário. Mais tarde,
ele relatou que foi nesse ponto que decidiu continuar seus experimentos em
sigilo, porque temia por sua reputação profissional se suas observações
estivessem erradas.
O artigo original de
Wilhelm, Ueber Eine Neue Art von Strahlen ("Sobre uma nova espécie de
Raios"), foi publicado 50 dias depois, em 28 de dezembro de 1895. Em 5 de
janeiro de 1896, um jornal austríaco relatou a descoberta, por Wilhelm, de um
novo tipo de radiação. Após a descoberta dos raios-X, Wilhelm recebeu o título
de Doutor Honorário em Medicina, da Universidade de Würzburgo.
Universidade de Würzburgo
Entre 1895 e
1897, ele publicou três artigos a respeito dos raios-X, cuja tradução para o
português pode ser vista nos links externos. Até os dias atuais, nenhuma das
suas conclusões foi considerada falsa. Atualmente, Wilhelm Röntgen é
considerado o pai da Radiologia de Diagnóstico – a especialidade médica que
utiliza imagem para o diagnóstico de doenças.
Devido à sua
descoberta, Röntgen foi laureado com o primeiro Nobel de Física, em 1901. O
prêmio foi concedido "em reconhecimento aos extraordinários serviços que a
descoberta dos notáveis raios que levam seu nome possibilitaram". Röntgen
doou a recompensa monetária à sua universidade, convicto de que a ciência deve
estar ao serviço da humanidade e não do lucro. À semelhança da escola
científica alemã da época, e, da mesma forma que Pierre Curie faria vários anos
mais tarde, rejeitou registrar qualquer patente relacionada à sua descoberta.
Morte
Wilhelm Röntgen morreu
em Munique, a 10 de fevereiro de 1923, devido a um carcinoma, aos 77 anos.
Atendendo ao seu pedido, ele foi sepultado no túmulo da família em Gießen, onde
sua mulher Anna também tinha sido enterrada.
Fotos
da Net
©
Carlos Coelho