domingo, 9 de junho de 2013

Ganhe anos de vida

Deixe de comer só para sobreviver e passe a comer para viver melhor. Saiba que alimentos o vão deixar mais bonito, mais bem humorado, mais saudável, mais atlético, mais pronto para o sexo – e até mais jovem.
 
Não coma isto! Não coma aquilo! Evite as gorduras! Cuidado com os fritos! Fuja aos doces! Já todos ouvimos esta lengalenga. E não é preciso ser médico para dar um conselho: qualquer familiar, amigo, conhecido ou desconhecido se julga um entendido em saúde e alimentação. A verdade é que (perdoem-me os profissionais) de nutricionistas todos temos um pouco. E todos temos na ponta da língua a lista de alimentos que nos fazem mal. O que não sabemos tão bem é o que devemos mesmo comer. Frutas e legumes, dirá o leitor  mais atento. Lacticínios, avançará o mais informado. Mas há outros menos evidentes. Alguém terá pensado, por exemplo, em… chocolate?
Pois o chocolate, preto, é um dos dez alimentos que um especialista norte-americano elege como os que devemos passar a vida a comer, para trocarmos as voltas ao envelhecimento.
A biografia de Michael Roizen aponta-o, há nove anos consecutivos, na lista dos dois mil melhores médicos dos Estados Unidos.
Quando a SÁBADO lhe perguntou a idade, apresentou-se assim: “ A minha idade cronológica é 58. A minha idade verdadeira é 40.”
O cálculo desta idade verdadeira (Real Age) foi inventado por ele. “ Pretende calcular a velocidade do envelhecimento do corpo, sobretudo as artérias, que é que provoca doenças e ataques cardíacos, mas que é inevitável em 70% dos casos”, explica o médico. A teoria de Roizen é simples: retardando o envelhecimento das artérias, retardamos o aparecimento de problemas e doenças que costumam vir com a idade, muitas veze para matar. E como é que atrasamos o envelhecimento das artérias? “ Comendo determinados alimentos.”
Não se trata de uma nova ciência, sublinha, mas de “interpretar conhecimentos científicos já consolidados”. A partir dos estudos existentes sobre a relação de alguns nutrientes como o envelhecimento dos vasos sanguíneos, Michael Roizen passou para os alimentos propriamente ditos e concluiu, por exemplo, que 140 gramas de frutos secos por semana podem valer mais um ano e meio de vida, que optar sempre por comida integral, em vez de refinada, pode retirar mais um ano e meio à idade e que nove ou mais porções de fruta e vegetais por dia podem render mais dois anos e meio.
Muito longe de imaginar estes cálculos, Maria Alexandrina Pardana levou quase toda a vida a enganar a idade, por instinto. A franzinice revela os 55 quilos, mas o aspecto e a boa disposição estão muito longe de denunciar os 86 anos. Entre duas espreitadelas à panela que tem ao lume, revela alguns truques alimentares:
Seis ameixas secas logo ao levantar, muito leite, queijo, fruta e cereais, sopa indispensavelmente ao almoço e ao jantar, pão sempre integral. A teimosia arrasta a insistência nestes alimentos há quase 50 anos: “O que eu faço é não comer coisas que sinto que me fazem mal”. E com esta regra Maria Alexandrina caminha para os 90 sem nenhuma das queixas que é costume ouvir-se às pessoas da mesma idade. Todos os dias anda uma hora e, quando o caminho é para o consultório, as analises que leva são sempre de fazer inveja: “Os médicos dizem-me que parecem de uma rapariga nova. E na farmácia até me garantem que eu posso fazer uma maratona à vontade!”
Sem saber, há décadas que Maria Alexandrina vai seguindo conselhos que só há alguns anos os médicos começaram a dar: substituir os hidratos de carbono refinados por integrais, que têm fibras; insistir nos legumes e fruta, pelo mesmo motivo; e apostar nos alimentos com cálcio, caso dos lacticínios. Mas há descobertas bem mais recentes. E essas nem a insistência do neto faz com que Maria Alexandrina as engula com mais facilidade...
Proteja o coração
Tem muito por onde escolher no combate à arteriosclerose e outros males
 
Os alimentos bons para o coração são, essencialmente, os alimentos bons para as artérias que lhe levam o sangue. Todos os que ajudem a diminuir a gordura e o açúcar que nos corre nas veias são bem vistos.
O primeiro conselho a ouvir de qualquer médico é: “Fibras, fibras, fibras”. Ah… e mais fibras: “ Eu costumo dizer aos meus doentes que no fim do dia devem conseguir lembrar-se de pelo menos quatro refeições diferentes em que tenham comido legumes e/ou fruta”, revela o cardiologista Carlos Aguiar. As fibras favorecem a absorção mais lenta dos alimentos e evitam a acumulação de gorduras. Todos os frutos e vegetais são bons, mas a maçã e o tomate  são eleitos como os melhores, por terem muitas propriedades protectoras dos vasos sanguíneos.
 
A acompanhar, opte por um chá verde, muito rico em antioxidantes, inimigos da transformação do colesterol em placas de gordura que se acumulam nas artérias (arteriosclerose). O mesmo motivo está na origem da recomendação de vinho tinto, desde que com moderação.
Além disso, saiba que a gordura do azeite, do salmão e da sardinha, não só combate o mau colesterol  (LDL) como até ajuda a aumentar o bom (HDL).
Alguns estudos indicam também que os frutos secos como a noz, a amêndoa e o caju têm um efeito protector da arteriosclerose. Mas destes não se pode abusar, devido ao elevado valor calórico.
De resto, já sabe, deixe os doces e nunca por nunca ceda à tentação dos fritos. Nos lacticínios, troque os gordos pelos magros. E opte pela carne magra e branca em vez da vermelha. A endocrinologista Isabel do Carmo lembra a dose recomendada: “Carne vermelha basta três vezes por semana, uma porção do tamanho da palma da mão.”
 
Tomate
 
É o legume que mais protege o coração e melhor ajuda a prevenir o cancro. Quantidade recomendada: uma colher e meia de molho de tomate por dia.
 
…Aos 33 anos, João Constâncio converteu-se à alimentação saudável. Primeiro foi uma questão prática: “ Cheguei a um ponto em que tinha de decidir se avançava alegremente para os 100 quilos, como o Marlon Brando, ou fazia dieta. “O professor de Filosofia acabou por se render às evidências e aprender as novas lições do nutricionismo.
As leguminosas que a avó Alexandrina – Licas, para os netos – ouviu os médicos afirmar, há décadas que faziam mal porque engordavam, passaram a fazer parte da sua ementa. “O feijão e o grão têm imensas fibras, que, além de fazerem bem, tornam a digestão mais lenta e prolongam a sensação de saciedade”, explica.
Alem disso, trocou a manteiga e o óleo pelo azeite – uma gordura que já se provou benéfica para o colesterol e para a prevenção da arteriosclerose – e introduziu os frutos secos na alimentação. A avó Licas não concorda com estas opções do neto e adverte-o: “Vocês não comem umas coisas e comem outras que ainda fazem pior! O amendoim é só gordura!”
De facto, o amendoim, como a noz, a amêndoa, o pistácio ou o caju, tem um elevado valor calórico. Mas já se provou que a gordura destes frutos secos é boa. “Têm um efeito protector da arteriosclerose e são muito ricos em magnésio”, afirma Isabel do Carmo. No livro Alimentação Saudável, Alimentação Segura, que acaba de lançar, a médica, uma das maiores especialistas portuguesas em obesidade e comportamento alimentar, escreve sobre as características da comida e explica, por exemplo, os benefícios da sardinha e do salmão.
Dona de um restaurante e de um corpo que revela cuidados com a alimentação, a manequim Barbara Elias não conhece a nova moda: “ De sardinhas não gosto, mas de salmão gosto bastante e como de vez em quando. Fazem bem?” Sim, fazem. Os peixes de que a avó Licas se habituou a fugir por serem gordos e de que o neto João aprendeu a aproximar-se, são também está provado, óptimos para a saúde. “Tenho alguns doentes que se dão muito mal com os medicamentos para o colesterol e pelo menos dois só com uma dieta rica em salmão é que conseguem controlar”, conta o Cardiologista Carlos Aguiar...
Vinho Tinto
 
 
Tem propriedades antioxidantes que evitam a acumulação de gorduras na parede das artérias. A quantidade recomendada é entre meio e um copo ao almoço e jantar.
Muito Afrodisíaco
Já ouviu falar de um tubérculo chamado galangal? Não? Pois…
 
Os mais crentes incluem na lista dos alimentos afrodisíacos ostras à cabeça, todos os mariscos de concha a seguir, especiarias exóticas, como cardamomo e pimenta-da-jamaica, gengibre fresco e em chá, assim como ginseng, sobretudo o vermelho.
Chakall, antigo dono de um restaurante de comida afrodisíaca, elege como alimento mais potente o  galangal, um tubérculo que não é costume encontrar-se em Portugal. À falta dele, usa e abusa do semelhante gengibre , mesmo em forma de chá.
A verdade é que, embora abundem relatos de efeitos refeições alegadamente afrodisíacas, a influência destes alimentos na libido não está provada. O sexólogo  José Pacheco explica que eventuais estímulos deverão ficar-se a dever-se sobretudo ao elevado poder da sugestão no corpo humano.
 
De onde virá, então a fama mundial que as ostras têm? O sexólogo responde: “A teoria das ostras é uma coisa engraçada e comum a alguns alimentos aos quais são associadas propriedades afrodisíacas, e que tem a ver com o facto de se assemelharem a órgãos sexuais. No caso das ostras, aos órgãos sexuais femininos.”
De acordo com esta explicação, a raiz do ginseng mimetiza os órgãos sexuais masculinos. O mesmo para os supostamente excitantes ovos de alguns pássaros. Entendido?
Já quanto ás especiarias, tidas igualmente como estimulantes da sexualidade, José Pacheco explica que a origem da crença “ está no seu valor exótico. Normalmente, quanto mais raro o ingrediente, melhor. A raridade também ajuda à sugestão”. Fica, então, tudo explicadinho à luz da ciência: atire-se à comida afrodisíaca só se estiver esmo disposto a acreditar que ela resulta.
Maçã
 
Rica em fibras, vitaminas, sais minerais e potássio. Ajuda a prevenir a arteriosclerose. Coma uma ou mais por dia.
…Amigo do coração, o salmão é um dos alimentos que Michael Roizen recomenda para o tão desejado prolongamento da juventude. À primeira vista, a ideia de “comermos mais anos de existência” pode parecer futurista de mais, mas a inovação que chega da América encontra reconhecimento em Portugal: “ a partir dos 25 anos, as nossas artérias começam a ter um processo fisiológico. E, de facto, há coisas que o fazem”, admite Isabel do Carmo.
 
 
O socialista Manuel Alegre aprendeu na pele a primeira das coisas que se deve mesmo fazer. Há alguns anos problemas cardíacos obrigaram-no a fazer uma angioplastia, uma operação para desimpedir as artérias. De lá para cá, deixou-se de grandes repastos: “O principal é não comer excessivamente para não cansar o coração. Comer muitas vezes e pouco. Sobretudo não me empaturrar, que era o que eu costumava fazer.” Além disso, o deputado e candidato à liderança do PS cortou nos doces e ouviu atentamente o conselho dos médicos: “Fibras são muito boas”, sublinha. Não só porque prolongam a digestão como, explica o cardiologista, “ ao atrasarem a absorção dos alimentos fazem com que os açúcares e as gorduras sejam assimilados de uma forma gradual e suave, evitando os picos de insulina, muito responsáveis pela acumulação de gorduras no organismo”.
 
 
Ricos em fibras, a fruta e os legumes em geral são dos tais alimentos, que nos podem manter mais novos durante mais tempo. No campo dos vegetais, o melhor é o tomate. Há que seguir o exemplo de Bárbara Elias: “Faço questão de levar para a praia, ou daqueles pequeninos, ou mesmo dos grandes, que como à dentada”
Frutos secos
 
 
 
Muito ricos em magnésio. Estudos indicam que têm efeito protector da arteriosclerose. Coma 30 gramas por dia, mas não vá além das 15 nozes ou amêndoas ou 30 amendoins ou pistachos.
Comer para correr
Os desportistas comem mais do que as outras pessoas: excepto em dias de competição
O desportista pode ser comparado a um carro formula 1, cujo tipo de combustível deve ser claramente diferente perante o esforço a que vai ser sujeito. "Com esta frase, o médico Domingues Gomes, que esteve durante anos no FC Porto, introduz a lista de alimentos recomendados para quem faz desporto.
 
 
 
O médico, que está agora na UEFA, fala de “muito pão, muito arroz, muitas batatas, muita massa, feijão, proteínas, verduras, fruta e lacticínios”. No fundo, os desportistas devem comer o mesmo que os normais sedentários mas, porque precisam de mais calorias, podem fazê-lo em maior quantidade. Sobretudo no que se refere aos hidratos de carbono, aos quais vão buscar a grande parte da energia. Desses Domingos Gomes elege as massas: “As pastas dão tudo e com a pasta pode acrescentar-se tudo: queijo, carne, feijão…”
O reforçado cardápio só deve mudar nos dias  de competição. Poe exemplo, para que o estômago cheio não faça os futebolistas entrar em campo com vontade de dormir a sesta, a refeição anterior ao jogo costuma ser mais leve. O médico exemplifica: “Uma sopa, um assado ou grelhado de carne magra ou de peixe, que se digerem mais facilmente do que a carne vermelha, alguns hidratos de carbono a acompanhar, fruta cozida e até uma sobremesa, um arroz-doce, uma aletria, porque não?”. Depois disto, qualquer um fica com força para correr como um campeão.
 
…O tomate “é o legume mais rico em substâncias protectoras cardiovasculares e preventivas do cancro. Além de vitaminas, o tomate tem licopeno, que é uma substância protectora da arteriosclerose”, explica Isabel do Carmo, enquanto Michael Roizen avança que estes ingredientes activos do tomate “são mais bem absorvidos pelo organismo depois de cozinhados”. De acordo com a dieta Real Age, consumir todos os dias dez colheres de sopa de molho de tomate, por exemplo valer-nos-á mais dois anos de vida.
Quanto aos frutos, comê-los cinco vezes por dia  pode tirar até quatro anos à nossa idade. Aqui, como com os legumes, não há que ser esquisito: tudo é bom: Mas os estudos e Isabel do Carmo indicam que não há melhor que a maçã: “É um belíssimo alimento, porque tem muitas fibras, vitaminas, sais minerais e potássio que, está provado, previne a arteriosclerose”. Além da teoria, a maçã também é prática: “Ás vezes saio de casa e meto uma maçã na carteira. É um bom fruto para matar a fome porque se pode comer a qualquer hora, sem dar trabalho nenhum”, elogia Barbara Elias.
Há mais conselhos para quem quer agarrar-se à juventude. As mais recentes descobertas dão importância ao chá verde, rico em antioxidantes, uma substância protectora dos vasos sanguíneos que ajuda a evitar a arteriosclerose. O médico da Real Age recomenda 4 a 6 chávenas por dia.
Em bem menores quantidades, o vinho tinto também está na lista dos alimentos rejuvenesci dores. Basta meio a um copo por refeição. Mais do que isso deixa de fazer bem, para começar a fazer mal. Convém ser selectivo. “O vinho mais recente, aquele  mais carrascão, é que faz bem, porque, com  o  envelhecimento, o vinho perde as capacidades antioxidantes”, alerta o médico do coração Carlos Aguiar. Portanto, não gaste dinheiro no vinho. É melhor poupa-lo para comprar uma boa garrafa de azeite e atacar as frigideiras como Bárbara Elias: “Quando cozinho, em vez de óleo e manteiga uso sempre azeite”, que ajuda na redução do colesterol LDL(o mau) e é muito benéfico na prevenção das doenças cardiovasculares.
Na mesma linha, aparecem os frutos secos, uma das mais recentes recomendações dos médicos, devido ao efeito protector da arteriosclerose, embora por serem bastante calóricos, a nutricionista Isabel do Carmo recomende que não se abuse deles. A Real Age indica que basta comer de 60 a 140 gramas por semana para diminuir mais um ano e meio de idade.
Outra novidade chega para adoçar a vida dos amantes de chocolate. Michael Roizen defende que, por ser rico em vitaminas e flavonóides, uma substância protectora dos vasos sanguíneos, 30 gramas de chocolate preto por dia (à volta de quatro quadradinhos) só fazem bem. Tem é de ser mesmo do preto, mais à base de cacau e menos leite. E não há desculpa para devorar uma tablete inteira, porque nesse caso vai encher-se de calorias – e olhe que não são poucas.
Para provar esta e outras teorias, o chocolate, os cogumelos, as alcachofras, a canela, o caril e até o café estão na mira de muitos investigadores. Mas, como para todos os alimentos que já passaram para o lado das certezas, a comprovação do seu benefício na prevenção de doenças não vai ser fácil. Não basta descobrir as propriedades dos alimentos e os seus efeitos em células de cultura e em animais. Antes de uma conclusão final é preciso escolher um grupo populacional de milhares de pessoas e ver como reagem ao alimento durante anos. Só depois disso iremos eventualmente ouvir os médicos mandar-nos comer alcachofras a torto e a direito ou polvilhar tudo com canela.
Até lá, temos os legumes e as frutas, sobretudo o tomate e a maçã, os peixes, especialmente o salmão e a sardinha, as leguminosas, como o feijão e o grão, vinho, chá verde, azeite e frutos secos. Estes são os alimentos que os estudos já provaram ou dão como pouco provável serem bons para a prevenção de doenças cardiovasculares, por serem benéficos para os vasos sanguíneos e que, de acordo com Michael Roizen, nos mantêm jovens durante mais tempo. São ingredientes suficientes para arregaçar as mangas, pôr o avental e começar a preparar a sua juventude. Ela não vem, afinal de nenhuma fonte. Está já aí, na sua cozinha...
Salmão e Sardinha
 
O Omega3, um ácido gordo saudável que ajuda no combate ao mau colesterol e até ajuda o bom e que se julga ajudar na prevenção de alguns cancros. Coma pelo menos 400 gramas por semana.
Cardápio do Bom Humor
Já tem desculpa para comer chocolate todos os dias: dá boa disposição.
Os alimentos afectam o nosso estado de espírito. É verdade. O chocolate faz-nos sentir melhor. Também é verdade. Bastava, portanto, somar dois e dois. Foi o que fizeram duas nutricionistas brasileiras, que asseguram que o chocolate é o alimento que maior impacto tem no humor.
A explicação está na serotonina. “Quando as células do nosso cérebro comunicam umas com as outras, libertam determinados neurotransmissores. A serotonina é um deles”, explica o neurologista Lopes de Lima. E, na maioria das vezes, a produção de serotonina confere uma sensação de bem-estar.
 
Os clássicos libertadores de serotonina são o chocolate, o queijo e o vinho tinto”, informa o médico.
As nutricionistas de um hospital de São Paulo apontam outros alimentos que podem influenciar o nosso humor.
No ramo dos tranquilizantes, além do eterno chocolate, temos a banana madura (uma ou duas por dia, sem misturar com outros alimentos), o aipo, a alface, as massas, o arroz, o pão, os doces e os lacticínios.
Do lado dos estimulantes aparecem os peixes e mariscos, os espinafres e os brócolos, as leguminosas e a laranja.
Finalmente, para conseguir uma sensação de euforia, aumente a produção de endorfina no cérebro através das determinações nervosas da língua com … pimenta e malaguetas.
…E que vai à cozinha, perceba primeiro com que estado de espírito lá vai entrar. Se for um pouco abatido, procure uma peça de fruta, uma laranja de preferência. Se se sentir um tudo-nada agressivo, antes de começar a partir a mobília agarre mas é numa faca… e corte uma fatia de pão. Ou faça como diz Herman José: “Uma gigantesca piza de massa crocante fininha, carregada de queijo, rúcula e tomatinhos-cereja, leva-me directamente ao céu”.
Com base na ideia de que o que comemos afecta o nosso estado emocional, duas nutricionistas de um Hospital de São Paulo, no Brasil, estabeleceram uma espécie de cardápio do bom humor, baseado em dois princípios: os hidratos de carbono proporcionam uma sensação de bem-estar, sobretudo para quem precisa de conter a agitação; as vitaminas, os sais minerais e o ácido fólico estimulam a actividade cerebral para os mais apáticos.
Se é daqueles para quem há poucas coisas melhores do que deixar derreter na boca um quadradinho de chocolate, saia que há uma razão para isso. O chocolate (outra vez ele) é dos alimentos que têm maior impacto no humor
Azeite
 
Bom para o colesterol. Previne a arteriosclerose. Pode ajudar a prevenir doenças cancerígenas. Quantidade recomendada: uma colher de sopa por dia.
Mais estranho será talvez saber que também um cacho de bananas ou um molho de espinafres podem “mandar” no nosso estado de espírito. Até o chef humorista é apanhado desprevenido. Herman José confessa que os vegetais lhe parecem “fora do contexto”, mas não é isso que o vai deixar mal disposto: “Adoro bananas e espinafres. Insisto mais nos segundos porque engordam menos.”
A quem também não faria mal nenhum insistir nos espinafres era a Benedita Pereira, não por causa do peso ou do humor, mas por questões de beleza. Quando a própria afirma ter “as unhas fracas e o cabelo fininho, o conselho é que coma alimentos ricos em betacaroteno (fruta e vegetais de folha verde escura e amarelos) e em ferro (carne, peixe e vegetais de folha verde escura).
Os espinafres têm as duas coisas.
A actriz e modelo confessa que tem mais cuidados para não engordar do que para abrilhantar a pele ou os cabelos: “Devia pensar mais nisso, mas a verdade é que não penso.” Mas como uma das coisas que Benedita mais gosta de comer, além de amêijoas à Bulhão Pato, é pão (“de todo o tipo, a qualquer hora e mesmo sem nada”), se optar sobretudo pelo integral, ou com sementes, já estará a ingerir vitaminas do complexo B (encontradas nos cereais), que fazem bem à pele.
Sem problemas de beleza que se percebam, Dani, o menino bonito do futebol, largou a bola há um ano, mas manteve-se fiel ao regime alimentar a que desde cedo se habituou. A fama de indisciplinado não o impede de assegurar sempre ter cumprido as regras… pelo menos as alimentares: “Aprendemos a ser os mestres do nosso corpo.” Depois de anos a comer, por obrigação, os hidratos de carbono que fornecem energia aos desportistas, ainda hoje são massas os pratos que Dani elege como favoritos: “tagliatelle aglio e olio, spaghetti carbonara e lasanha de legumes.”
As massas, como o arroz, as batatas e o pão, são presença constante nos pratos de quem passa a vida a puxar pelo corpo. O regime altamente calórico só é aligeirado em dias de prova, recorda Dani: “Antes do jogo davam-nos uma refeição muito leve, com peixe ou bife grelhado.”
Depois de mais de 20 anos no departamento médico do FC Porto, Domingos Gomes sabe bem que muitas vezes, nesses dias, os jogadores reclamam da ementa: “Normalmente eles não gostam muito de comer peixe. Dizem que peixe não puxa carroça.” Dani admite: “Grelhado ainda se come bem, mas não gostava nada quando nos davam peixe cozido...
Chá Verde
 
Rico em antioxidantes protectores dos vasos sanguíneos. Pode beber quatro chávenas por dia.
Alimentos que dão Beleza
Acrescente mais vida ao seu cabelo, pele e unhas. O segredo está na cozinha…
O espelho mostra-lhe uma pele baça e macilenta? Um cabelo sem vida e sem brilho? As unhas estão fracas e quebradiças? Não ceda à tentação de se enfiar, deprimida, na cama e avance sem medo para a cozinha. Procure: ovos, fígado, citrinos, tomate e outros frutos e vegetais, óleo de vegetais, lacticínios e gérmen de trigo. São alimentos ricos em vitamina A, C, E e do complexo B, ou seja, ajuda a recuperar o bom aspecto.
 
A biotina (vitamina B8) é especialmente indicada para os cabelos. Encontra-se nas vísceras, na cevada, nos legumes e nos ovos. “ A gordura da sardinha e do salmão também estimula os cabelos, assim como os pigmentos que há na cenoura, no pimento e no tomate”, informa o dermatologista Sousa Bastos.
Em caso de problemas com a pele, unhas ou cabelo, deve ainda comer carnes magras, marisco e frutos secos, ricos em zinco, magnésio e cobre.
 
E para que a ementa não seja monótona, até tem direito a um doce. O dermatologista recomenda: “Se experimentar comer gelatina durante três ou quatro meses, vai ver que fica com os cabelos mais fortes.”
Além dos energéticos hidratos de carbono, o desportista deve reforçar-se com proteínas, vitaminas e sais minerais. O potássio é fundamental: “A falta desse mineral pode levar à paragem cardíaca”, explica Domingos Gomes. Quem se prepara para fazer um grande esforço deve, portanto, abastecer o organismo com carnes magras, frutos e vegetais.
Longe de precisar de tanta energia como os desportistas, o cozinheiro Chakall necessitará, ainda assim, de alguma para dar seguimento ao estímulo que acredita ganhar de determinados alimentos: “Todos os dias como ou bebo gengibre. O Chá de gengibre também é bom para a circulação.” Mas mais do que se interessar pelos benefícios do tubérculo na corrente sanguínea e geral, o que o antigo modelo procura é um efeito mais específico, primeiro ao nível do cérebro e depois de um outro órgão. Sejamos mais claros: do que estamos a falar é de alimentos afrodisíacos.
 
Há cinco anos, Chakall “perdeu-se” por terras africanas. Quando encontrou o caminho de volta a Portugal, vinha carregado de malas cheias de condimentos para temperar o restaurante de comida afrodisíaca que acabaria por abrir em Lisboa. No menu não faltavam pratos com gengibre, ginseng, cardamomo, pimenta-da-jamaica e mariscos. O homem da moda saltou para a cozinha e preparou muitas refeições: “Acho que há alimentos que ajudam no estímulo da sensualidade. Mas também tem que ver com o modo de os preparar e com a disposição de quem cozinha...
Feijão e grão
 

Estão a cair em desuso por causa das calorias. Mas são boas! As leguminosas são ricas em fibras, aminoácidos e proteínas. Alguns estudos indicam que podem prevenir o cancro. Coma uma vez por dia.
Bons Contra o cancro
Não há certezas sobre o efeito dos alimentos no combate á doença – mas há esperanças.
 
Em relação ao cancro, a medicina alimentar ainda não te tantas certezas como quanto aos problemas cardiovasculares. Há vários alimentos que se julga poderem fazer bem, mas cujo benefício ainda não conseguiu provar.
Aqui encontramos, uma vez mais, as leguminosas, ricas em substâncias que, em laboratório, já se provou prevenirem o cancro. “Como têm muita fibra, podem funcionar como um mecanismo de diluição das substâncias tóxicas no intestino. Estatísticas feitas em países muito consumidores revelam uma menor incidência de cancro”, esclarece Paulo Fidalgo, gastrenterologista no Instituto Português do Oncologia (IPO).
O cancro do intestino é dos que mais matam. O da próstata é outro. No caso deste, o tomate é indicado como tendo propriedades protectoras. Mas todos os frutos e legumes costumam ser aconselhados pelos médicos. Dos vegetais, os de cor verde-escura são muito indicados, porque são ricos em vitaminas e ácido fólico, que, explica Paulo Fidalgo, contribui para que o nosso ADN fique mais robusto ante as agressões.
 
 
Na lista dos alimentos recomendados por poderem ajudar a prevenir doenças cancerígenas estão ainda o azeite e o peixe, sobretudo o salmão e a sardinha. “Células expostas a ácido gordo Ómega 3 restauram-se e mantêm a ordem e o ritmo de nascimento e morte”, adianta o médico do IPO.
Mas, por causa do cálcio, adianta Paulo Fidalgo, são os lacticínios “os produtos alimentares que podem ter maior importância na prevenção dos cancros dos intestinos, da próstata e da mama, os chamados cancros dos países desenvolvidos”.
Nessa época, o cozinheiro largava o fogão a tempo de ver os últimos comensais abandonar a mesa. Pelos olhos de Chakall havia quem saísse do restaurante visivelmente entusiasmado. Mas o mais provável é que o efeito não fosse da refeição: “O poder da convicção vale o que vale. Até nos estudos do Viagra, 25 por cento dos homens que tomaram o placebo (comprimido sem nenhum componente activo) ficaram com erecção”, afirma o sexólogo José Pacheco.
Na realidade, pelo menos que se conheça, não há nenhum ingrediente nos alimentos que estimule o desejo sexual ou a excitação.”
E assim, com três frases apenas, se arrasa a crença de muitas pessoas, incluindo Chakall: Mas ele não se deixa abalar. Destinado para a cozinha no dia em que, há 32 anos, literalmente nasceu no meio de uma, hoje o antigo modelo dedica-se a ensinar cursos de catering aquilo que sabe: “Somos o que comemos.”
Chocolate preto
 
 

Pelas propriedades vitamínicas e protectoras dos vasos deve comer-se até 30 gramas por dia. Quantidade recomendada: três ou quatro quadrados por dia.
A ementa ideal para um dia
 
 

Faça a experiência e passe um dia a comer as poderosas fibras nas principais refeições, a excelente gordura da sardinha e do salmão, o saudável azeite, o recém-eleito chá verde, os recomendados lacticínios magros e o benéfico vinho tinto. São refeições com o aval da médica Isabel do Carmo.
 
Pequeno-Almoço
Cereais sem açúcar com leite magro/meio gordo
Ou
Pão Integral com queijo magro
Laranja
Chá verde
Meio da Manhã
Um iogurte magro
Ou
Um pedaço de queijo magro
Almoço
Sardinhas com duas ou três batatas,
Salada de alface, tomate, agrião e cebola temperada com azeite
Ou
Salada de Atum com feijão-frade
Meio copo de vinho tinto
Maçã
Lanche
Pão com sementes e queijo magro
Chá verde ou leite magro/meio gordo
Jantar
Sopa de legumes
Bife de peru grelhado com salada de alface, tomate e cebola, temperada com azeite,
Três a quatro colheres arroz (de preferência integral)
Ou
Salmão com brócolos temperados com azeite e alho,
Duas a três batatinhas
Meio copo de vinho tinto
Pêra
Ceia
Fruta
Ou
Leite magro ou iogurte magro
Ou
Queijo magro.
 
Fonte: Revista Sábado
Texto: Isabel Lacerda
CarlosCoelho

sábado, 8 de junho de 2013

Fatehpur

Índia
Diwan-i-Khas
De passagem pela Índia, e com paragem obrigatória em Deli, pude dar um passeio até Agra e uma saltada a Síkri.

Feito o balanço destes dois dias, eis o relato de um olhar que pousa pela segunda vez numa das mais belas maravilhas do mundo, o Taj Mahal, e em estreia absoluta na cidade real de Fatehpur Síkri.
Sempre que aterro na Índia, acho que já nada me espanta. O que verdadeiramente me desperta a cada chegada é a energia que paira e se desprende, e obrigando-me a apurar os sentidos.
Tomb of Sheikh Salim Chishti

A cidade de Deli, a terceira maior do país, é a porta de entrada para o fabuloso passeio do Triângulo de Ouro, que nos leva rumo a uma Índia mais profunda.
Gosto de voltar a sentir o fervilhar da cidade de Deli. Já de noite, organizo in extremis um passeio para conhecer Fatehpur Síkri. Fica para lá de Agra e o comum dos turistas não a visita, porque a estrada é péssima e tudo serve de demora.
Anup Talao (lagoa), a plataforma no meio foi usado para concursos de canto

Sei que vale a pena o esforço e alugo um carro. O meu guia, de olhar brilhante e turbante vermelho, fala um francês fluente e, como se eu fosse uma estreante, explica-me detalhadamente tudo o que irei poder ver. O trajecto até Fatehpur síkri leva quatro horas; atravessamos pequenas localidades com um trânsito caótico onde tudo acontece. Nesta marcha lenta, mas apesar de tudo gostosa, consigo apreciar o colorido local.


A cidade real de Fatehpur Sikri foi fortificada no século XV e mandada construir pelo Imperador Akbar Mughal. A Arquitectura é tão bela quanto surpreendente, e leva-me a querer saber mais da sua história. Trabalhada a tijolo e a pedra local, salta à vista a mistura de estilos e de elementos islâmicos e hindus. Demorou quinze anos a ser construída e no final, por falta de água, tornou-se um lugar fantasma, onde hoje já nada se passa.
Esta herança histórica actualmente serve apenas para deleitar um olhar silencioso e espreitar devagar os esplendorosos palácios de janelas rendilhadas, os sucessivos pátios de magníficas proporções, jardins e piscinas, tudo feito em tijolo. A mancha geral deste pequeno reino reflecte, consoante a hora do dia, tonalidades incríveis, do rosa-purpura ao vermelho. Ali, mais nenhuma cor é possível a não ser a das mulheres locais, que balanceiam os seus saris fulgurantes. São imagens lindas, a guardar para sempre.

Taj Mahal


De regresso a Agra, quero novamente emocionar-me diante do Taj Mahal, olhar essa fabulosa jóia construída, em nome do amor, pelo marajá Shah Jahan. Já lusco-fusco, aproximo-me dessa obra fantástica. Debruçada no varandim superior que antecede o acesso ao mausoléu deixo-me inebriar pela beleza do lugar sem mesmo me aproximar. A perspectiva é soberba, do lago estreito e comprido vejo as cúpulas, alvas e perfeitas, projectadas nas águas cinzentas. Revejo com minúcia as janelas trabalhadas, qual filigrana, e volto a constactar que a pedra branca e luminosa foi trabalhada por mãos divinas.
Fonte: Revista Caras
Texto: Maria da Assunção Avilez
CarlosCoelho

Rubens


Rubens
 
Peter Paul Rubens nasceu em 1577 em Siegen, Alemanha, onde o pai, Jan Rubens, um conceituado advogado de Antuérpia que se tornou amante da mulher do príncipe Guilherme de Orange, se exilaria. Após a morte do pai, a mãe regressa a Antuérpia com os filhos e Rubens passa a receber uma educação católica. Aos 21 anos, enquanto ajudante de Van Veen, é admitido na guilda dos pintores de Antuérpia. Viaja até Italia , onde conhece  o seu futuro mecenas, Vicenzo Gonzaga, duque de Mântua. O duque confia-lhe algumas missões diplomáticas que o levam a Espanha. Regressa a Antuérpia em 1608, por causa da morte da mãe, e no ano seguinte casa-se com Isabella Brant, de 17 anos. Entre 1622 e 1630 é igualmente requisitado como diplomata e pintor, dividindo-se entre as viagens e as encomendas de vários monarcas. Em 1630, quatro anos após a morte de Isabella, casa-se com Hélène Fourment, de 16 anos. Morre de gota aos 63 anos.
  

Com a exposição Rubens, la Adoración de los Magos, na qual, além de várias obras-primas do pintor flamengo, são apresentados os esboços feitos por Miguel Ângelo para a Capela Sistina, o Museu do Prado.
Poucos anos depois de ter sido executado, este quadro foi enviado para Madrid, passando a fazer parte da colecção real de Espanha. Vinte anos mais tarde, quando Rubens visita Espanha, entre 1628-1629, e se encontra com a obra, decide reformula-la e modifica uma série de detalhes. Decide mesmo aumentar o quadro em cima e na margem direita.
Até 1620 Rubens desenvolve dois estilos alternados, um pictórico, marcado pelos mestres italianos, com recursos a cores fortes e brilhantes, com apontamentos amarelos e vermelhos, e outro mais clássico, consistindo numa composição elaborada de cores frias. Considerado o pintor mais importante do barroco flamengo, Rubens, fosse qual fosse o tema ou a estrutura compositiva ou mesmo a utilização da cor, imprimia à obra o cunho de um grande colorista, a complexidade compositiva e a mestria de um magnífico desenhador, impregnando-a ainda com o seu estilo de vida alegre e livre.
“Adoração dos Reis Magos”, óleo sobre tela, pintado em 1609 para a Câmara de Amberes.
 
Fonte: Revista Caras
CarlosCoelho
 
 

 

 

Santa Rita

 
Há, pelo mundo, uma infinidade de santos espraiando-se pelos dias do ano, pela toponímia e até pelos bilhetes de identidade. Alguns foram adoptados pelo povo. A Humilde Rita, mulher doce mas “vulgar”, não realizou nenhum milagre espectacular. Mas é venerada com um afecto familiar, porque tinha o dom de ajudar os mais desafortunados.
A vida póstuma dos santos é imprevisível, tanto como a dos homens ilustres, os artistas os escritores, que o futuro esquece ou imortaliza, abandona ou retoma sem que nenhuma autoridade a isso se possa opor. Quem lê nos nossos dias Sully Prudhomme, primeiro prémio Nobel da Literatura em 1901, e que universitário previu o impacto posterior de dois pobres diabos como Lautréamont ou Rimbaud? Ao declarar que Santa Rita era a mais popular das santas, a par de Santo António de Pádua, o Papa João Paulo II constatou a amplitude de uma veneração que a Igreja não tinha encorajado.
António de Pádua, canonizado no ano seguinte ao da sua morte, permaneceu muito tempo na sombra do santo Francisco de Assis antes de conhecer um sucesso fenomenal e inopinado. Do mesmo modo, a humilde Rita de Cascia, falecida em 1427, só foi beatificada em 1628 e canonizada em 1900, como se a Igreja apenas a contragosto tivesse registado a intensa piedade em redor da “patrona das causas desesperadas”.
Os objectos perdidos e as causas desesperadas talvez participem de uma dimensão do impossível demasiado sedutora para os espíritos ingénuos que exigiram poderes exorbitantes, mais mágicos do que os que cabem num santo decente. Mas se o Papa nomeia os santos, o povo nem sempre espera para eleger os seus.
O Professor Yves Chiron nota na sua “Verdadeira História de Santa Rita” (Perrin,2001) a dificuldade de traçar com certezas os passos da vida de Rita sem que possamos ainda assim duvidar da sua existência. Por tudo isso, se associarmos, como aqui, à presença dos santos na vida quotidiana dos fiéis a verdadeira história e as provas científicas (nomeadamente as dos seus milagres), tudo importa menos que a sua lenda, princípio irracional e activo através do qual intercedem a nosso favor junto do Céu. A de Rita é constante, com variações mínimas.
Os seus pais, António Lotti e Amata Mancini, são camponeses piedodos que vivem na Úmbria, 150 quilómetros a norte de Roma, e desesperam por ter uma descendente; uma voz – um anjo – anuncia a Amata que vai dar à luz uma filha e que lhe deverá dar o nome de Rita, em honra de Santa Margarida (margarida quer dizer “pérola” em latim). Rita nasce a 22 de Maio de 1381 em Roccaporena,, perto de Cascia. A pequena vila de Roccaporena, apesar de isolada a 700 metros de altitude nos montes Apeninos, não ignora os problemas que devastam o mundo abaixo. Enquanto em França a Guerra dos Cem Anos arruína o reino, a peste faz milhares de vítimas em toda a Europa.
Quanto à Igreja, atravessa uma crise desde 1378, a do Cisma do Ocidente. O Papa Gregório XI, exilado em Avinhão, regressou a Roma para morrer. Urbano VI, que lhe sucede, deve afrontar um outro papa, depois um terceiro. Urbano VI e Clemente VII entregam-se a uma luta sanguinária e violenta, pouco cristã, para ocupar a sede de S. Pedro. Rita, contemporânea de Joana d’Arc (nascida 31 anos antes da virgem francesa, vai sobreviver-lhe 28), testemunhará também esta época de grandes desordens, reagindo à sua maneira, discreta e menos militar.
Casada com Paolo
 
Tem um ano e dorme numa alcofa debaixo de uma árvore, num campo onde trabalham  os seus pais, quando um camponês que acaba de se ferir com a foice vê um enxame de abelhas voar em torno da pequena. As abelhas entram na sua boca sem a picar; ela sorri. O Camponês tenta enxotar os insectos e a sua mão já ferida cura-se de imediato. Os pais, a vila, não sabem como interpretar este presságio.
É educada na oração e no amor de Deus, dedicando-se desde adolescente a tratar dos seus pais entretanto velhos, recusando quais quer enfeites femininos; sonha perto dos 14 anos em abraçar a vida religiosa: Os seus pais planeiam para si algo diferente e um dia dão a sua mão a um certo Paolo. Rita começa por protestar: esta decisão vai contra os seus projectos, Paolo passa por um sedutor, brutal e alcoólico. Depois submete-se à vontade dos pais, reflexo da vontade de Deus; este Paolo, de uma condição social superior à sua, saberá socorre-los melhor que ela própria.
A sua vida de casada é infeliz. Paolo é um alcoólico violento a quem Rita trata com tanta paciência e doçura que os seus vizinhos a apelidam “ a mulher sem rancor”. Rita jejua com frequência, encarando este casamento como uma mortificação e reza pela saúde do marido. De facto, depois de 18 anos de calvário conjugal, quando ela traz ao mundo dois gémeos, o carácter de Paolo adoça-se, ele arrepende-se sinceramente, converte-se e o casal conhece enfim uma felicidade de pouca duração.
Paolo fez muitos inimigos antes da sua conversão; uma noite estes fazem-lhe uma emboscada e apunhalam-no. Paolo morre perdoando-lhes o crime. Rita perdoa também aos assassinos do seu marido, mas os dois filhos dominados pela cólera, como antes o seu pai, esperam vingá-lo. Rita suplica-lhes em vão que nada façam e dirige-se a Deus: que ele os leve para junto de si antes que se tornem criminosos. Os gémeos caem à cama doentes pouco depois e convertem-se ao morrer.
Noviça em Cascia
De ora em diante sem família, Rita é livre para realizar a sua vocação religiosa. Bate á porta do mosteiro de Cascia, mas por três vezes as irmãs augustinas recusam-lhe a entrada. A congregação instituída para jovens raparigas não acolhe viúvas. É também possível que entre os religiosos se encontrem alguns familiares dos assassinos de Paolo. Rita procura reconciliar os clãs hostis da vila e uma noite de natal S. João Baptista, S. Agostinho e S. Nicolau levam-na para o mosteiro. A abadessa, descontente por um tal patrocínio, aceita Rita como noviça, mas coloca-a à prova.
Não lhe poupam nem os vexames, nem as humilhações e a sua paciência não fraqueja. Ordenam-lhe absurdamente que transporte cada dia um pedaço de madeira. Rita obedece e a madeira floresce e dá uvas. Uma vez admitido que professe, empenha-se em seguir a regra de S. Agostinho. Pouco a pouco a sua reputação espalha-se: os que se lhe dirigem vêem as suas preces cumpridas. As orações de Rita são ouvidas no Céu, o que não deixa de provocar a inveja das suas irmãs.
Em 1443, numa sexta-feira Santa, Rita está em oração diante do crucifixo do altar. Um espinho de gesso da coroa de Cristo cai sobre ela, atingindo-a em plena fronte. No dia seguinte, a ferida agrava-se e exala um odor repugnante. Algumas religiosas do mosteiro interpretam este estigma como uma punição pelos momentos dramáticos da sua vida passada. A ferida só fecha durante uma peregrinação a Roma pelas festas do Jubileu e, de regresso a Cascia, reabre-se, purulenta e tão mal cheirosa que Rita é isolada numa cela, onde vive observando um jejum quase absoluto.
 
Durante o Inverno de 1457, exausta, pede à sua prima que lhe leve uma rosa do seu antigo jardim. No meio do jardim coberto de neve, a prima descobre uma rosa esplêndida; leva-lha. Esta renova-se com duas flores. No termo das suas forças, Rita recebe os últimos sacramentos e expira a 22 de Maio do mesmo ano, com 76 anos. No instante da sua morte, a sua ferida transforma-se num rubi, as roupas transmutam-se, a cela nauseabunda é inundada de luz e de um perfume delicioso. Há cinco séculos e meio que o seu corpo repousa, intacto e suave como uma rosa, diz-se, num caixão de vidro na basílica de Cascia.
 
Santa do último recurso
De onde vem o culto dedicado a Rita? Ela não fundou uma ordem religiosa nem produziu escritos espirituais, os prodígios que pontuam o seu percurso terreste são pouco espectaculares, nenhum tirano a torturou; somos tentados – exceptuando a parte dos embelezamentos habituais na matéria, a parte das flores – a ver nela uma mulher memorável, doce mas “vulgar”.
Ora é precisamente por isso, porque ela não foi muito diferente de tantos outros mortais, que a veneramos com um afecto quase familiar. Porque, apesar dos obstáculos, perseverou, obstinada e pacificadora, numa vocação que lhe tinham interdito. E decerto, como confirma já tarde a inveja das suas irmãs rivais, porque ela tinha a arte de vir em ajuda dos mais desafortunados, um dom de advogada dos “casos desesperados”.
 
Para milhões de crentes, nem sempre católicos, ela acalma as tempestades, resolve as situações sem saída, cura os incuráveis. Com ou sem razão, ela encarna a santa do último recurso, aquela que nunca abandona os que apelas à sua bondade. Intocáveis ex-votos e livros de ouro concedem-lhe graças, unânimes e muitas vezes anónimas.
Para além da Basílica de Cascia, uma enorme quantidade de igrejas ou capelas são-lhe dedicadas um pouco por todo o lado, como em Nice, em Saint-Aignan, perto de Rouen. Duas delas são singulares, apesar de tudo, por motivos bem diferentes. Em Paris, no boulevard 65 de Clichy, no altar do liceu Jules- Ferry, uma capela de Santa Rita pertence à paróquia de Trinité. Longe de possuir os faustos barrocos da de Nice, é um local austero, mesmo pobre, despido de ornamentos e mal assinalado, um vulgar rés-do-chão em pleno Pigalle, no meio das “sex-shopes” e diante do Moulin Rouge. Como se a Igreja, dedicando a Rita esta antiga capela do século XIX, tivesse querido responder ao desejo legítimo expresso pelas prostitutas de terem um local de oração reconhecido.
Sem pretender igualar maria madalena, a pecadora amiga de Cristo, estas “mulheres da má vida” consideraram a sua vida suficientemente má, tolerada com hipocrisia e cinicamente explorada, para merecerem este asilo discreto. Daqui a confusão que por vezes se estabelece, fazendo de Rita a patrona das mulheres de rua. A amálgama é falsa.
Para além disso, por uma comparação algo condescendente, consideramos que apenas Rita pode reconfortar um “caso tão desesperado” como o das prostitutas: Mas a capela acolhe maioritariamente fiéis homens ou mulheres, jovens ou velhos, que nada têm a ver, nem nutrem nenhuma atracção pelo comércio da carne.
Missa para os animais
No número 27 da rua François-Boivin, no bairro 15, ergue-se outra igreja mais clássica, com nave de estilo gótico e vitrais, na Paróquia de Santa Rita. Construída no fim do Século XIX pelo Igreja Apostólica de Inglaterra, durante muito tempo fechada, foi reaberta em 1986 para se transformar em sede da Igreja Francesa Anglicana.
Não desenvolvemos a longa história do anglicanismo francês, nascido em 1870 em reacção ao dogma da infalibilidade pontifical. Não discutiremos a validade do título de arcebispo reivindicado pelo seu responsável.
Monsenhor Dominique Philippe é um homem agradável que não desenhas os holofotes, os estúdios de televisão, e goza de um certo vedetismo. No portão da Igreja de santa Rita, há fotos que o mostram na companhia de Michéle Mercier (actriz francesa), eterna Marquesa dos Anjos, ou do Conde de Paris. Adquiriu uma verdadeira popularidade celebrando uma missa para os animais, que benze cada ano desde 1993, aos primeiros domingos de maio e Novembro. “ No ìnicio, o Monsenhor Di Falco (agora porta voz dos bispos de frança) mostrou-se zeloso, mas eu disse-lhe que se acalmasse. Benzemos viaturas, barcos. No seu tempo, Pio XII benzeu canhões… Os animais, esses, têm alma.”
A missa dos animais também se tornou – sob patrocínio de S. Francisco de Assis – num estranho momento de folclore ligeiro, difundido pelos “média” com o apoio de numerosas associações de amigos dos animais e adversários de touradas. A Igreja de Santa Rita povoa-se de cães, de gatos, de pássaros em gaiolas; na rua, cabras, porcos, burros esperam pela sua vez, mesmo lamas e um dromedário. Cantores entoam com afinco “ Miau, miau!” no irresistível “Duo dos gatos” de Rossini; enquanto Monsenhor Philippe, imperturbável, sacode o seu hissope sobre os pássaros, os quadrupedes com toda a espécie de pelagem e a todos dá a absolvição.
O que pensa Santa Rita, anfitriã involuntária desta cerimónia? Antes de mais, a questão da alma dos animais dos animais remonta à Antiguidade: E se a sorte sorridente da maior parte dos cães e gatos conduzidos sobre o seu tecto não é um “caso desesperado”, ninguém sabe se a solidão dos seus companheiros humanos o não será.
Fonte: Jornal Público/ “ Le Monde”
Texto: Michel Braudeau
CarlosCoelho