domingo, 1 de janeiro de 2017

Leonardo Da Vinci

Códigos. Os segredos  do maior artista de sempre. 
A vida misteriosa de Da Vinci


(Autoretrato de Leonardo)
Sete anos depois de ter recebido a encomenda, deu os últimos retoques no quadro. Era um retracto de meio corpo, tipicamente renascentista, um clássico da iconografia de Jesus Cristo, repetido inúmeras vezes até então. Mas Leonardo Da Vinci, 61 anos estava satisfeito com o resultado. A mão direita erguida em sinal de bênção e o globo sob a palma esquerda estavam lá, respeitando a tradição. Mas o seu Salvator Mundi era diferente. A esfera que representa a Terra não era o convencional globus cruciger que Ticiano, Antonello de Messsina e tantos outros tinham pintado – translucida, em vez de uma cruz no topo tinha três pintas brancas, em forma de triângulo, à superfície. E o rosto de Cristo, que ensaiou pelo menos duas vezes em papel com cabelos aos caracóis, tinha traços femininos. Entregou a encomenda. Só não se sabe a quem. Seis anos depois estaria morto.

(O Salvator Mundi perdido desde 1763 e encontrado em 2005. Em 1958, o Salvator Mundi foi vendido por 45 libras. Hoje vale 137 milhões de euros.)

Pelo menos durante o último século, o paradeiro de Salvator Mundi de Da Vinci foi um mistério. Os especialistas sabiam que tinha sido pintado (para Luís XII de França ou para o mecenas italiano Gian Giacomo Trivulzio) porque foram encontrados estudos para o quadro nos manuscritos de Leonardo e porque vários discípulos do mestre o tinham reproduzido. Mas acreditavam que a pintura teria sido destruída ou perdida para sempre – a partir do século XVIII, o percurso do pedaço de madeira de 65cm por 45cm, que em 1649 foi registado na colecção particular de Carlos I de Inglaterra, tornou-se impossível de reconstruir.

(Desenho de época)

Depois de ter visto o pai ser executado, Carlos II herdou o Salvator Mundi e uns anos mais tarde ofereceu-o ao duque de Buckingham. Quando o filho do nobre leiloou a pintura, em 1763, o rasto perdeu-se. Em 1900, num leilão no Reino Unido, apareceu um quadro que era parecido. Estava em péssimo estado mas, ainda assim, o coleccionador Frederick Cook resolveu licitá-lo. Terá sido o único a acreditar que tinha um verdadeiro Leonardo nas mãos, mesmo quando os especialistas da época concluíram que não passava de uma cópia do original, feita por Giovanni Boltraffio. Em 1958, os seus herdeiros venderam-no por apenas 45 libras.




(Interiores do Clos Luce, castelo ligado por uma passagem subterrânea à residência do Rei Francisco I, onde Leonardo se instalou em 1515, quando se mudou para o Vale do Loire, como convidado real. Passou  os últimos quatro anos em França. Foi sepultado na capela do castelo.)

Em 2005, o quadro reapareceu muito degradado e coberto de inúmeras camadas de tinta e verniz. Foi submetido a testes intensivos e à análise dos maiores especialistas mundiais da obra de Da Vinci. Em Julho do ano de 2011, estes chegaram à conclusão: é o original de Leonardo e estava avaliado em 137 milhões de euros. Ficou pela primeira vez em exposição em Novembro de 2011 na National Gallery, em Londres.
Apesar de ter documentado grande parte do trabalho que fez nos, seus famosos códices, a obra de Leonardo permanece um mistério. Ao longo de toda a vida, terá completado pouco mais de 20 quadros e frescos (acredita-se que pelo menos 10 estejam desaparecidos) e a maioria das suas esculturas perdeu-se sem que ninguém as tivesse visto. Da Vinci pintou poucas obras e passava vários anos (por vezes décadas, como aconteceu com Mona Lisa) a trabalhar nelas até estarem perfeitas. Mas deu-se ao trabalho de pintar o mesmo quadro duas vezes.



Aconteceu com a Virgem dos Rochedos – existem duas, uma no Museu do Louvre, a outra na National Gallery. Estiveram ambas lado a lado pela primeira vez, na exposição de Londres. Foi então mais fácil perceber as diferenças que fizeram com que a primeira versão tivesse sido recusada pela Confraria da Imaculada Conceição, que encomendou o trabalho.
Segundo Sarah B. Benson, do Departamento de Arte e Arqueologia da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, “um dos motivos que fizeram com que a primeira tela fosse rejeitada foi o aparecimento no cenário, atrás dos personagens, de plantas utilizadas em rituais pagãos”. A encomenda previa que o artista apresentasse Nossa Senhora e o Menino, rodeados por anjos e profetas, mas Leonardo pintou um episódio que nem sequer vem descrito na Bíblia. 


Trata-se do encontro de Cristo com o jovem São João Baptista, numa gruta a meio do caminho, quando a Sagrada Família fugia para o Egipto, depois de ter sido avisada pelo anjo de que Herodes ordenara o massacre de todos os recém-nascidos em Jerusalém. O encontro só foi relatado num dos evangelhos apócrifos, escritos por autores desconhecidos, nos primeiros séculos do cristianismo, e nunca reconhecidos pela Igreja Católica.
Além das plantas utilizadas em rituais heréticos, Da Vinci excluiu São José; pintou São João Baptista sem a tradicional cruz de madeira e mais próximo da Virgem Maria do que o próprio Menino Jesus, como se estivesse sob a sua protecção; e desenhou o arcanjo Uriel com um dedo esticado, como se estivesse a fazer o sinal de decapitação, defendem alguns estudiosos. Outros, como os críticos de arte John Ruskin e Walter Pater, acrescentaram ainda, no início do século XIX, que a forma andrógina que o pintor deu ao arcanjo é prova inequívoca da “decadência de Leonardo e das suas actividades homossexuais”.



Apesar de haver registos que defendem que Leonardo só pintou uma segunda Virgem dos Rochedos porque vendeu a primeira a outro comprador, a dúvida mantem-se: porque mudou tanto, de uma pintura para a outra? É que, apesar de terem o mesmo nome, e de à partida serem semelhantes, os dois quadros são muito diferentes. “ Nunca saberemos o que Da Vinci queria realmente dizer com alguns elementos. O facto é que na segunda versão do quadro estes foram tirados ou suavizados”, explica Benson.


Este episódio reforça a tese de que, apesar de todo o seu trabalho no campo da pintura religiosa, Leonardo Da Vinci não acreditava em Deus e poderá ter estado ligado a grupos secretos anticatólicos. Esta desconfiança vem de Longe: Na primeira edição de A Vida dos Artistas, de 1550, Giorgio Vasari, um dos seus primeiros biógrafos, garantia que o artista era herege. Mas na segunda edição, publicada 18 anos depois, Vasari apagou a frase polémica: “O seu espírito era de uma natureza tão herética que nunca aderiu a nenhuma religião, pensando talvez que fosse preferível ser um filósofo a ser um cristão.”




Certo é que Da Vinci sempre viveu á margem das regras rígidas da Igreja e fez experiências consideradas “negras” na época. Há registos de que, ao longo de toda a vida, o artista terá aberto e estudado cerca de 30 cadáveres dentro da própria casa, muitas vezes de madrugada. Num dos seus cadernos escreveu até sobre o “medo de passar a noite na companhia destes homens mortos, desmembrados, esfolados, horríveis de ver”.

(Anatomia, Gravidez. Foi o primeiro a descrever a localização exacta do feto no útero. Com um senão: desenhou a placenta múltipla de uma vaca e os seres humanos têm só uma.)

A actividade permitiu-lhe chegar a conclusões inéditas sobre o funcionamento e organização do corpo humano e a questionar ideias defendidas pela igreja. Nos seus códices, Leonardo descreveu o sistema vascular e desenhou esboços fidedignos de músculos e órgãos, mas também aludiu ás semelhanças entre primatas e humanos. 

(Dissecações, Heresia. Da Vinci autopsiou 30 cadáveres. Catalogou todos os ossos do corpo humano e descreveu os mecanismos que os fazem mover.)

Entre as mais de cinco mil páginas que resistiram até á actualidade, contam-se ainda os estudos de Leonardo para as suas esculturas (como o gigantesco cavalo Sforza, que projectou para o Duque de Milão, mas nunca chegou a construir) e todos os detalhes para a criação das suas visionárias invenções: há 500 anos, projectou pára-quedas, escafandros, tanques de guerra, máquinas escavadoras, catapultas e até uma espécie de precursor do helicóptero. Todas essas notas foram, como era seu hábito, escritas da direita para a esquerda, e com as letras invertidas, como se estivessem pensadas para serem lidas em frente a um espelho.

(Engenheiro, Armas. Desenhou uma besta gigante e um tanque de guerra. Até idealizou as primeiras bombas de fragmentação.)

A escrita especular é um dos maiores mistérios da vida de Da Vinci. Alguns historiadores acreditam que o fazia porque era canhoto e autodidacta e preferia escrever ao contrário para não borrar a tinta com a mão. Outros defendem que não queria que os seus apontamentos fossem decifrados por pessoas ligadas á Igreja Católica. Michael White, ex-editor de política do Jornal The Guardian e autor de Acid Tongues and Tranquil Dreamers: Eight Scientific Rivalries that Changed the World, não tem dúvidas: “Leonardo era paranóico, em parte por boas razões. Havia os que queriam plagiar as suas ideias, rivais que chegaram a colocar assistentes no seu estúdio para o roubarem, e havia os espiões de Roma, sempre á espera que ele se descuidasse.”

(Visionário, "Helicóptero". Foi uma das obsessões, voar. Também desenhou um ornitóptero. Nenhum saiu do chão.)

Estes factos ajudam a teoria de que o pintor terá sido um dos mais importantes grão-mestres de uma misteriosa sociedade secreta, o Priorado de Sião, cujo objectivo seria perpetuar e divulgar um dos maiores segredos da humanidade Jesus teria casado com Maria Madalena e tido um filho com ela. Essa descendência humana de Cristo era na verdade o que se escondia, explicam Henry Lincoln, Michael Beigent e Richard Leigh em The Holy Blood and the Holy Grail, por trás do símbolo do Santo Graal.

(Um Cavaleiro Templário aparece no topo da mesa, do lado esquerdo. Do Lado esquerdo de Cristo, a experiência revela uma mulher com um bebé ao colo.)

(À frente de Jesus surge um cálice tombado. Tiago está a olhar para ele. O Italiano Slavisa Pesci inverteu a imagem da Última Ceia, como se esta estivesse à frente de um espelho, e colocou-o por cima do original. Resultado: foram reveladas figuras ocultas no fresco.)

Esse segredo revelou o italiano Slavisa Pesci em 2007, pode ter sido ocultado pelo pintor florentino num dos seus mais famosos frescos. Para o estudioso amador. A última Ceia, que sempre foi alvo de controvérsia (existe uma corrente que defende que o apóstolo João, o único imberbe representado, seria na realidade Maria Madalena), não é apenas a visão de Da Vinci sobre o momento em que Jesus revela aos seus seguidores que foi traído por um deles. Invertendo uma cópia do quadro e colocando-a por cima do original, Pesci descobriu imagens escondidas no desenho: vários cavaleiros templários, com as cabeças cobertas por cotas de malha ou elmos, e uma mulher, com um bebé ao colo.
Pesci garante que os desenhos ocultos no fresco a que Leonardo se terá dedicado entre 1495 e 1498 (e que 20 anos depois já se começava a deteriorar, fruto de uma mistura de óleo e têmpera que não correu bem) comprovam a crença do pintor na descendência de Cristo.




(Alguns esboços da Ceia de Cristo)

Não é a única referência ao assunto encontrada pelos símbologistas na obra de Leonardo. Porque entretanto mudava de ideias ou porque tinha intensão de ocultar mensagens e significados, raros foram os quadros do génio florentino que não tiveram várias camadas de tinta. Em 2005, Maurizio Seracini, um dos maiores especialistas mundiais na obra de Leonardo, revelou que A adoração dos magos não é apenas uma recriação de mais um episódio bíblico, o da visita dos Reis magos à Virgem e a Jesus recém-nascido. Mais: revelou que a pintura terá sido começada por Da Vinci, mas alguém a terá acabado, pintando por cima e ocultando várias imagens da versão original.


Por baixo da camada superior do quadro, com recurso a raios X, fotografias digitais de alta definição e raios ultravioleta e infravermelhos, Seracini descobriu novos elementos escondidos. Atrás da mais recente tecnologia, o investigador revelou que no lado esquerdo do desenho, onde antes parecia existir apenas um edifício destruído, Leonardo desenhou operários escondidos.



De acordo com o especialista, a presença de trabalhadores naquele que era um templo pagão revela uma intensão de Leonardo: mostrar que o templo está em processo de reconstrução. Por que motivo o fez, ninguém sabe. Apesar de tudo apontar para que o Priorado de Sião não passe de uma farsa criada em 1956 por um francês chamado Pierre Plantard, há quem acredite nessa tese: o edifício representaria a dissolução e a consequente reedificação encapotada da Ordem dos Cavaleiros Templários, o braço armado do Priorado de Sião, que ainda hoje defenderá o segredo do Santo Graal.



Questionado pelo Guardian sobre se teria sido o próprio Leonardo a cobrir o trabalho, por saber que como estava não iria ser aceite pelos monges de São Donato de Scopeto, que lho tinham encomendado, Seracini recusou-se a comentar: “Os historiadores de arte, é que têm de o dizer. Mas eu não excluiria a hipótese.” É bastante provável. O especialista italiano descobriu cerca de 70 novas figuras por baixo d’A Adoração dos magos: há cavalos, um boi e um burro na manjedoura, inúmeros rostos dispersos, muitos ameaçadores, e uma cena de batalha a cavalo, no canto superior direito.
Em 2008, O argentino Hugo Conti dedicou-se a estudar os códigos e mensagens que poderão estar escondidos nas pinturas de Leonardo Da Vinci. 


As conclusões a que chegou são, no mínimo, perturbadoras. Utilizando apenas um espelho, o investigador, líder de uma organização obscura chamada O espelho das sagradas Escrituras e Pinturas, descobriu uma série de imagens ocultas em quadros do pintor. “É fácil encontrar imagens invisíveis nas pinturas de Leonardo. Muitas das suas personagens parecem estar a olhar para o vazio. Na verdade, estão a indicar o local onde se deve colocar o espelho para ver as imagens”, explicou ao Discovery News. O método funciona, mas não para os quadros onde Da Vinci retractou personagens com dedos a apontar – neste caso, é no indicador que deve ser colocado o espelho.
Os resultados do estudo, que o Vaticano disse na altura precisar de “provas sólidas”, bem como do aval de críticos de arte, são intrigantes. No ombro de Mona Lisa, o quadro mais famoso do pintor, pode ver-se a imagem de uma figura com um capacete, estranhamente semelhante a um guerreiro. Exactamente a mesma imagem que surgiu quando o teste foi aplicado à Virgem com o Menino e Santa Ana. Hugo Conti explicou: tratar-se-iam de duas representações de Javé, deus descrito no Antigo Testamento e que alegadamente simboliza a “luta da mente humana contra os Vícios do corpo”.


Em Baco, a imagem oculta também é uma referência às Sagradas Escrituras: um corpo com quatro pernas, misto de homem e mulher. De acordo com Conti, trata-se da Árvore da vida no jardim do Éden: “Todas estas imagens bíblicas escondidas estão relacionadas com uma mensagem secreta deixada pelo artista. Representam alegorias do Génesis e do Novo Testamento e abrem as portas a uma nova forma de interpretar as suas obras.”
Embora os especialistas se tenham mostrado cépticos, a imagem gerada pelo reflexo de A Última Ceia reforça uma série de outras teorias. Entre as mãos de Jesus, exactamente no sítio para onde Tiago dirige o olhar, aparece um cálice deitado: “O apóstulo Tiago não está a fixar Judas, mas o lugar onde o Santo Graal, visível apenas através de um espelho, está tombado na mesa.”


Em 1506, Leonardo Da Vinci abandonou o fresco da Batalha de Anghiari que estava a pintar numa das paredes do Salone dei Cinquecento, no Palazzo Vecchio, de Florença. Era uma pintura grandiosa e violenta, com cavalos possantes e soldados furiosos de espadas em punho. Mesmo inacabada, era uma obra admirável, copiada repetidamente por discípulos de Da Vinci.
Depois, em menos de meio século, a tinta começou a soltar-se das paredes – não se sabe se foi mais uma experiência que correu mal ou se a culpa foi de Francesco Nuti, merceeiro, que lhe vendeu óleo de linhaça adulterado. Em 1563, o fresco estava na iminência de se perder para sempre. Foi nessa altura que Giorgio Vasari recebeu uma encomenda por parte dos Medicis, entretanto regressados ao poder: pintar nas mesmas paredes a batalha de marciano, que opusera nove anos antes, na Toscana, os exércitos de Florença e Siena. Aceitou o trabalho. E o fresco de Leonardo desapareceu.
Por que Motivo terá Vasari pintado por cima do trabalho de Leonardo? O investigador Charles Nicholls não deslinda i mistério: “Há duas coisas que se podem inferir, uma pessimista, outra optimista: que, na opinião de Vasari, nada se via que valesse a pena conservar; ou então que tomou medidas para proteger o que lá estava antes de começar a pintar.”
A má notícia? O fresco perdeu-se mesmo. A boa? Tudo aponta para que o biógrafo soubesse perfeitamente o que estava a fazer. Mais uma vez, foi Maurizio Seracini quem descobriu tudo. A busca durou 35 anos. Desde a década de 70 do século passado que o director do Centro de Ciência Multidisciplinar da Arte, Arquitectura e Arqueologia da Universidade da Califórnia viveu obcecado com os relatos sobre os magníficos cavalos de Leonardo (que subsistem através de várias cópias dos estudos para o original, a mais conhecida será a de Rubens).
Em 2005, encontrou o que procurava: o fresco perdido, de Leonardo, estava mesmo por baixo da Batalha de Marciano, pintada por Vasari. Por meio de radares e equipamentos de raios X, o especialista descobriu uma pequena câmara-de-ar, de não mais de três centímetros, que separa a pintura de Vasari do mural de Leonardo Da Vinci.
O município de Florença e o Ministério da Cultura italiano autorizaram, em 2007,  que o especialista prosseguisse as investigações. Seracini esta actualmente a trabalhar em parceria com um fotógrafo e um cientista nuclear, no desenvolvimento de uma câmara de rais gama, capaz de detectar pigmentos atrás do fresco de vasari. O problema: as despesas ascendem a 190 mil euros e, até á data, nenhum patrocinador ofereceu tanto ( o fotografo david Yoder e a National Geographic até lançaram uma campanha de angariação de fundos para viabilizar o projecto).


Fascinante foi a forma como Maurízio Seracini resolveu o mistério e teve a certeza de que estava a procurar o mural perdido no sítio certo. Depois de horas a estudar o fresco de Vasari, descobriu uma mensagem enigmática numa das dezenas de bandeiras pintadas no quadro, composto por uma imensidão de corpos, espadas e lanças, No topo do fresco, a cerca de 12 metros do chão, o especialista encontrou uma bandeira, carregada por um soldado florentino. Sobre o verde, a tinta branca, o especialista conseguiu ler, apenas com a ajuda de binóculos, duas palavras, com não mais de dois centímetros e meio de altura. Uma mensagem disfarçada por Giorgio Vasari para os especialistas do futuro: “Cerca Trova” – Procura e Encontrarás.

Fonte: Revista Visão
Texto: Tânia Pereirinha
Fotos da Net
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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

E se um meteorito nos cair em cima?

É mais provável do que se pensava. Muitos explodem na atmosfera e outros caem no mar. A ameaça hoje chama-se Apophis e pode embater na Terra em 2036.


“ De repente o céu dividiu-se em dois e o fogo apareceu sobre a floresta. Todo o lado norte ficou coberto de fogo. Nesse momento fiquei tão quente que não o consegui suportar, como se a minha camisola estivesse a arder. Queria tirá-la, mas de repente o céu fechou-se, houve um grande trovão e fui projectado alguns metros. Depois disso ouvi um barulho como se rochas estivessem a cair ou canhões a disparar e a terra tremeu. Quando o céu abriu, um vento quente corria entre as casas. Mais tarde vimos que muitas janelas estavam partidas.”


O relato é de S. Semenov, um russo que há exactamente um século vivia em Vanavara, na zona central da Sibéria. O homem provavelmente morreu sem saber o que viu ás 7h17 daquela manhã de 30 de Junho de 1908, quando se preparava para tomar o pequeno-almoço. Não foi o único a partir na ignorância. Foram precisos muitos anos para se saber exactamente o que em poucos minutos destruiu 2150 km2 de floresta (mais de 80 milhões de árvores); provocou um movimento sísmico equivalente a um terramoto de grau 5 na escala de Richter; fez os barómetros em Inglaterra registar uma onda de choque atmosférica que deu volta ao globo; causou a formação de nuvens a grande altitude que reflectiam a luz solar e permitiam ler os títulos dos jornais à meia-noite em alguns locais da Europa e da Ásia; e provocou uma explosão de cerca de 15 megatoneladas de TNT (mil vezes a potência de Little Boy, a bomba largada em Hiroxima, em 1945).


As duvidas sobre o que aconteceu permaneceram durante anos. A revolução bolchevique, a Primeira Guerra Mundial e o isolamento da região adiaram as expedições ao local, que só foi visitado em 1921 pelo cientista russo Leonid Kulik. Desde logo concluiu que o desastre de Tunguska (assim baptizado por ter ocorrido sobre o rio com o mesmo nome) tinha sido provocado por um meteorito. Mias tarde Kulik conseguiu convencer o governo a financiar nova expedição, que chegou em 1927. Para sua surpresa não encontrou nenhuma cratera que indicasse o ponto de impacto. 


As árvores destruídas continuavam a marcar a rota do meteoro e na zona de explosão ainda havia algumas de pé, com pequenos ramos. A ausência de uma cratera motivou, durante décadas, diversos rumores sobre o sucedido, inclusive a queda de um OVNI – Tunguska tornou-se um local de culto para aqueles que procuram vida extraterrestre e o desastre foi várias vezes mencionado na série Ficheiros Secretos como um dos grandes mistérios da humanidade.
Hoje, a opinião unânime entre os cientistas é que o meteorito ou asteróide, depois de entrar na atmosfera, acabou por não resistir à pressão e explodiu a cerca de oito quilómetros de altitude. Até há alguns anos, julgava-se que pra provocar uma destruição semelhante, o corpo celeste teria de ter entre 50 e 80 metros de diâmetro. No entanto, um estudo recente do Sandia National Liboratory, no Novo México, publicado no Internacional Journal of Impact Engineering, indica que o asteróide poderia ter apenas 30 a 50 metros. Através de uma simulação num supercomputador, a equipa liderada pelo cientista Mark Boslough concluiu que o meteoro entrou na atmosfera a 15km por segundo, num ângulo de 35º sobre o horizonte. A onda de choque terá embatido no solo a 180km por hora e provocado vários equivalentes a um furacão de categoria 3.
Além de detalhar o que sucedeu há 100 anos na Sibéria, o trabalho de Boslough permite outra conclusão: os meteoritos mais pequenos também são perigosos. “ Os pequenos asteróides são muito mais do que os grandes e explodem antes de chegar ao solo. Só os que têm mais de 100 metros é que fazem crateras”, explica o cientista.


Devido ao movimento de rotação da terra, se o asteróide de Tunguska tivesse caído quatro horas mais tarde, a cidade imperial de S. Petersburgo teria sido arrasada. Já no que toca Lisboa, Mark Boslough não tem dúvidas: “ Um asteróide muito pequeno, com 40 metros de diâmetro, podia destrui-la.” Ainda assim, o cientista diz que é mais provável a capital portuguesa ser atingida por um terramoto do que por um meteoro. “ A maioria explode demasiado alto na atmosfera para ser uma ameaça. A probabilidade de alguém ser morto por um asteróide é de uma num milhão”, diz.
No entanto, as hipóteses têm vindo a aumentar com a descoberta de novos corpos celestes. Tem sido assim ao longo das últimas décadas. Em 1980 havia apenas 86 asteróides conhecidos a uma distância próxima da Terra. Dez anos mais tarde o número tinha subido para 170. No ínicio do ano 2000 eram 921. Hoje, de acordo com os números da NASA, são para cima de 5576 e novos corpos são descobertos todos os meses.
Mais importante: na viragem do milénio eram conhecidos 300 objectos que ultrapassavam um quilómetro de diâmetro. Actualmente, esse registo já vai nos 747. A preocupação poderá aumentar com as observações dos cientistas a estenderem-se para lá daquela que é conhecida como a Cintura dos Asteróides, entre Marte e Júpiter. Em 1992, os astrónomos da Universidade do Havai e do Massachusetts Institute of Technology, David Jewitt e Jane Luu, localizaram uma gigantesca região de asteróides que começa em Neptuno. Baptizada de cintura de Kuiper, contém pelo menos mil objectos suficientemente grandes para serem vistos da Terra. Ou seja, têm mais de 100 km de diâmetro. São os chamados “assassinos de planetas”.
A probabilidade de um meteorito destruir uma cidade também é baixa devido à composição da Terra. Com 70% do planeta coberto de água, é mais comum um  objecto vindo do espaço cair nos oceanos do que num dos cinco continentes. Assim se explica a existência de poucas crateras provocadas por meteoritos e foi essa lógica que levou a geofísica Dallas Abbott, da Universidade de Columbia, a passar a última década no fundo do mar à procura de crateras que não tivessem sido provocadas por vulcões. “Esperava encontrar entre 10 e 100 crateras com menos de 180 milhões de anos e talvez uma com menos de 1 milhão de anos com 20 km de diâmetro ou mais largas”. Foi por isso que ficou “surpreendida” por ter encontrado 14 marcas de quedas de jovens asteróides de grandes dimensões, num período curto em termos geológicos.


Uma das descobertas “mais excitantes” para a cientista foi a da cratera no golfo de Carpentária, a norte da Austrália. Abbot acredita que um objecto com 300 metros de diâmetro atingiu o golfo no ano 536. Um objecto desse tamanho podia libertar tanta energia como mil bombas nucleares. “ Esperamos relacionar as nossas descobertas a factos da História da humanidade, mas ainda estamos a trabalhar nisso”, diz. Alguns relactos da época, incluindo do historiador bizantino Procópio, dão contas de céus nublados, fracas colheitas e Verões frios entre 536 e 537. Mas, como o asteróide caiu no mar, os efeitos passaram rapidamente.


Muito mais preocupante foi o que Abbot descobriu ao largo da costa de Madagáscar, no Oceano Índico. No fundo do mar, a cientista encontrou indícios da queda de um objecto espacial com três a cinco quilómetros de diâmetro há cerca de 4800 anos. O seu impacto terá provocado um tsunami com 180 metros de atura (várias vezes superior ao de 2004) que atingiu o Oceano Pacífico. Se tivesse caído em terra, o seu impacto teria levantado uma gigantesca nuvem de pó e grande parte do continente africano teria entrado numa idade do gelo.
Alguns cientistas afirmam que ocorreu um processo semelhante a esse na América do Norte há 13 mil anos e que levou à extinção dos mamutes, tigres-dentes-de-sabre e outros animais selvagens. Em 2005, uma equipa liderada por Richard Firestone, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na Califórnia, chegou à conclusão de que “um cometa de 10km, que talvez se tenha composto a partir dos restos de uma explosão de uma supernova, pode ter atingido a América do Norte há 13 mil anos”. Para defender esta tese, a equipa de Firestone realizou análises do solo por toda a América do Norte e, na maioria delas, encontrou irídio, um elemento raro na Terra mas comum no espaço. A explosão deste corpo celeste sobre o Canadá (não existe cratera) terá alterado o clima de uma forma tão radical que começou ai um período de arrefecimento global.


Neste momento, a NASA tem sob observação 210 corpos celestes com possibilidade de embater na Terra num futuro próximo (http://neo.jpl.nasa.gov/risk/) , apesar de essa probabilidade ser reduzida. Aquele que mais tem chamado a atenção dos cientistas é o 99942 Apophis, descoberto a 19 de Junho de 2004, que tem uma hipótese em 45 mil de colidir com a Terra em 2036. Com apenas 300 metros, o seu impacto teria uma força semelhante à de 60 mil bombas de Hiroxima.
Os astrónomos têm-se preocupado em estabelecer as rotas precisas dos asteróides para conseguir prever algum possível impacto. “Na última década  descobrimos a órbita da grande maioria de asteróides conhecidos e sabemos que não vão atingir a Terra (ou pelo menos é improvável que tal aconteça)”, explica Mark Boslough. “ Deviriamos enviar um emissor para o Apophis rapidamente para garantirmos que a Terra não estará na sua rota. Quanto mais depressa for feito, mais tempo teríamos para descobrir o que fazer se houver uma trajectória de impacto.”
Quem esta de acordo com Boslough é Rusty Schweickart, antigo astronauta e actual director da Fundação B612. Criada a 7 de Outubro de 2002, esta instituição (baptizada com o nome de asteróide de O Principezinho, de Antoine Saint-Exupéry) tem por objectivo conseguir “alterar significativamente a órbita de um asteróide de uma forma controlada até 2025.” Nesse sentido, a fundação elaborou uma simulação por computador  com um corredor de risco definido, onde o Apophis poderia embater. Dessa rota fazem parte a Rússia, Califórnia, México, Nicarágua, Costa Rica, Colômbia e Venezuela. Depois cairia no Atlântico. Além dos milhões de mortos, a queda do Apophis provavelmente daria origem a um violento tsunami.


Para já há  poucas formas de interceptar um objecto espacial. Com algum tempo de aviso, Mark Boslough diz que seria possível recorrer a tractores gravitacionais – algo que atraísse os asteróides para longe da gravidade terrestre.
No imediato, teria de se recorrer a uma “intercepção nuclear”. No entanto, o processo não é tão simples como parece em filmes como Armageddon, no qual uma equipa de astronautas vai colocar uma bomba nuclear no objecto espacial. A par da impossibilidade de o fazer, um tratado internacional em vigor desde 1963 proíbe o uso de armas nucleares no espaço. Segundo o cientista, esta seria a parte de mais fácil resolução do problema: ”Acredito que haveria um acordo se a alternativa fosse a aniquilação do planeta.”
http://neo.jpl.nasa.gov/stars/

Quedas assinaladas por descobertas recentes

A maioria dos meteoritos não chega a embater no solo. Muitos explodem no ar. Os que atingem o planeta têm grandes hipóteses de cair no Oceano.


- Tunguska – A ausência de uma cratera intrigou os cientistas durante anos. Hoje acredita-se que o meteoro explodiu a cerca de oito quilómetros de altitude, no centro da Sibéria, em 1908. Destruiu 2150km2.

- Golfo de Carpentária – A cratera de um meteorito com 300 metros foi localizado a norte da Austrália por Dallas Abbott. Terá caído no ano 536. Relatos da época dão conta de céus nublados, fracas colheitas e Verões frios.


- Madagáscar - Ao largo deste país africano, Dallas Ababott encontrou indícios da queda de um objecto espacial com três a cinco quilómetros há cerca de 4800 anos. Terá provocado um tsunami com 180 metros de altura.


- América do Norte – Em 2005, uma equipa liderada por Richard Firestone apresentou provas da queda de um meteorito no Canadá há 13 mil anos que matou animais como mamutes e tigres-dente-de-sabre e originou uma idade do gelo.


Fonte: Revista Sábado
Texto: Nuno Tiago Pinto
Fotos da Net
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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Use e abuse da Gelatina

Fortalece os ossos e os tecidos


Esta sobremesa, tão adorada pelos mais pequenos, contém muitas proteínas que fornecem aminoácidos essenciais para a boa saúde do organismo.

Rica em Colagénio
A partir dos 25 anos, o organismo começa a reduzir a concentração de colagénio. Sem este, o tónus muscular sofre uma diminuição, fazendo com que os ossos, pele, unhas e cabelos se tornem nemos resistentes e percam elasticidade e brilho. A gelatina é uma aliada! Coma-a.

Isenta de gorduras
O colagénio reforça os tendões e os ligamentos que unem os músculos aos ossos. A gelatina ajuda na nutrição destes tecidos, mantendo a hidratação e a integridade das articulações, desempenhando um papel importante na prevenção e no tratamento de dores articulares, artroses e osteoporose. É isenta de gorduras.

Como consumir?
Pode ser adquirida em folhas, pó com sabor, ao natural ou em cápsulas; mas há diferença entre a gelatina que compramos no supermercado e a vendida em casas de produtos naturais.
A gelatina que compramos nas grandes superfícies contém colagénio em menor quantidade e muito açúcar.

Fonte: Revista Maria
Texto/Autor: Dr. Custódio César (nutricionista)
Fotos da net
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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Selam, a menina australopiteca


Depois de milhares de horas de escavações durante cinco anos, uma equipa de antropólogos desenterrou, finalmente, o esqueleto de uma menina de 3 anos que viveu há 3,3 milhões de anos – e que surge assim perante os nossos olhos como a criança mais antiga até hoje conhecida.
Foi encontrada na região de Dikika, no Nordeste da Etiópia, onde terá morrido devido a uma inundação, e ali ficou, coberta por areias e rochas, adormecida no tempo.
Neste regresso à luz do dia, a criança foi rebaptizada pelos antropólogos de Selam – que significa ‘paz’ em armárico, a língua etíope -, embora a revista Nature, que anunciou a descoberta, tenha falado dela como «a filha de Lucy», por esta ser tida pelo nosso antepassado mais antigo até há pouco conhecido e por pertencer à mesma fase histórica, a dos Australopithecus afarensis.
Mas Selam terá vivido 150 mil anos antes de Lucy e o seu estado de conservação é bem melhor: tinha o crânio, a face e o tronco praticamente intactos, além de partes dos membros superiores e inferiores.
Os investigadores acreditam que podem, através dela, desvendar muito mais sobre o modo de vida dos seres que são considerados os nossos mais remotos antepassados.

Fonte: Revista Visão
Texto/Autor: Desconhecido
Foto da Net
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domingo, 18 de dezembro de 2016

A Necrópole de Alcácer do Sal


Perto de Alcácer do Sal, a pouco mais de mil metros para o ocidente, existe uma vasta necrópole, cuja exploração tem prendido, de há meio século a esta parte, as atenções de distintos arqueólogos, como por exemplo, o sr. dr. Vergílio Correia que dedicou uma larga actividade ao estudo da interessante região.
Todo o espólio da necrópole de Alcácer do Sal, é composto por coisas romanas e coisas anteriores ao domínio Romano em Portugal. Daqui se pode facilmente concluir que a necrópole foi utilizada durante um largo período.


Dos inúmeros objectos que lá foram encontrados e cujo estudo pode prestar óptimos esclarecimentos ao investigador de diversos povos habitantes desta zona, reproduzimos uma interessante falcata, uma adaga de antenas e a empunhadura de um escudo.

Falcata é uma espada de folha curta e recurva que se encontra com frequência na península, principalmente ao sul, e que já no século V era usada pelos guerreiros gregos.


Não é fácil determinar como entrou o seu uso na Iberia, no entanto, introduzida por via guerreira ou comercial, o que é certo é que este instrumento se encontra em quantidade por toda a região da Meseta.


A mais rica Falcata que se conhece, é de Almedinilla, e constitui uma bela peça, de maravilhosa execução, encantadoramente decorada com motivos característicos Jónicos.
A Falcata que reproduzimos, apresenta ainda duas braçadeiras da bainha, tam largas como o bocal, o que indica que ela era rectangular, á maneira grega.


A adaga de antenas encontra-se também em Espanha meridional e central e abunda segundo a sistematização de Jimpera, no século IV e princípios do III.

Esta arma que foi introduzida nas coortes romanas por altura da segunda guerra púnica, depois dos formidáveis movimentos bélicos dessa época, que arregimentaram mercenários de toda a conca mediterrânica, era dsnominada, pela sua origem, por hispânica, e usada sobre a coxa direita.


A empunhadura de que igualmente damos reprodução é idêntica aos fragmentos de peças congéneres que foram encontrados em Almedinilla e que passaram para o Museu Arqueológico de Madrid.

Fonte: Almanaque Ilustrado O Século (1931)
Texto/Autor: Desconhecido
Fotos da net
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