quarta-feira, 10 de junho de 2020

Frédéric Passy


(Prémio Nobel da Paz de 1901)


Frédéric Passy (Paris, 20 de maio de 1822 — Neuilly-sur-Seine, 12 de junho de 1912) foi um político francês. Recebeu o Prémio Nobel da Paz de 1901. Fundou, juntamente com William Randal Cremer, a União Interparlamentar. Foi fundador e presidente da Sociedade Francesa para a Paz.
O Trabalho de Passy pela paz começou durante a guerra da Criméia (1853-56). Seu apelo pela paz no periódico Le Temps (1867) ajudou a evitar a guerra entre a França e a Prússia sobre o Luxemburgo. No mesmo ano, fundou a Liga Internacional para a paz, mais tarde conhecido como a sociedade francesa para a arbitragem internacional. 


Após a guerra Franco-alemã (1870-71) declarou independência e neutralidade permanente para a Alsácia-Lorena. Como membro da Câmara dos deputados franceses (de 1881), com sucesso instou a arbitragem de uma disputa entre a França e os Países Baixos relativo a fronteira da Guiana francesa, Suriname. Ele ajudou na fundação da União Interparlamentar (1888) e permaneceu ativo no movimento de paz para o resto da sua longa vida.

Fotos: Da Net
© Carlos Coelho

terça-feira, 9 de junho de 2020

Os 10 quadros mais caros de sempre


Se pensa que poderá ver as obras mais valiosas num qualquer museu de uma capital europeia, terá de conter a sua curiosidade. Isto porque tal só será possível se um dos proprietários decidir empresta-lo a uma sala de exposições, a troco de uma choruda quantia, claro!


Saiba por quanto foram vendidas, em leilão, as pinturas mais caras do Mundo.


1. Retrato do Dr. Gachet, Vincent Van Gogh: 82,5 milhões de euros.


2. Au Moulin de la Galette, Pierre-August Renoir: 78 milhões de euros.


3. O Massacre dos Inocentes, Peter Paul Rubens: 76,7 milhões de euros.


4. Auto-Retrato sem Barba, Vincent Van Gogh: 71,5 milhões de euros.


5. Natureza-morta com cortina, Jarro e fruteira, Paul Cezanne: 60,5 milhões de euros.


6. Mulher de braços cruzados, Pablo Picasso: 55,6 milhões de euros.


7. As núpcias de Pierrette, Pablo Picasso: 51,7 milhões de euros.


8. Mulher sentada no Jardim, Pablo Picasso: 49,5 milhões de euros.


9. Íris, Vincent Van Gogh: 49 milhões de euros.


10. O sonho, Pablo Picasso: 48,4 milhões de euros.

Fonte: Revista Ego
Fotos da Net
© Carlos Coelho



segunda-feira, 8 de junho de 2020

Giotto



Giotto di Bondone, conhecido por todos simplesmente como Giotto, foi um dos maiores pintores do mundo. Nasceu em 1267, em Itália, e em criança era um pequeno pastor.
Narra a lenda que o mestre Cimabue, que era um grande artista, vi-o um dia enquanto apascentava as ovelhas. Giotto desenhava nas pedras que encontrava no prado e a sua grande habilidade levou Cimabue a admiti-lo na sua oficina. Pouco tempo depois, Giotto fez uma simpática brincadeira ao seu mestre: desenhou uma mosca sobre o nariz de um rosto que Cimabue estava a pintar. Quando o mestre viu a mosca, tentou afastá-la com as mãos… Aquele insecto estava tão bem pintado que parecia verdadeiro!!!

Giotto foi um artista único! Foi o pintor que iniciou a arte moderna, inventando um estilo novo: nos seus quadros, as pessoas exprimem os sentimentos e as emoções que experimentam: alegria, espanto, dor… Antes dele, nenhum pintor desenhara deste modo! Giotto foi chamado o “discípulo da Natureza”, porque também foi o primeiro a pintar as paisagens e as pessoas de um modo semelhante à realidade. Vendo as suas pinturas, também todos os outros artistas descobriram este novo modo de fazer Arte. As suas pinturas mais importantes são as “Histórias de São Francisco”, que pintou por volta de 1295.Estátua de Giotto


Estátua de Giotto

Conta-se que uma vez o Papa Bento XI, curioso pela fama de Giotto, enviou até ele um amigo, para lhe pedir um desenho que mostrasse a sua habilidade. Giotto pegou numa folha, mergulhou um pincel na tinta vermelha e sem o auxílio de qualquer instrumento, só com uma mão, desenhou um círculo perfeito. «Só isto?», perguntou o amigo do Papa. «Até é demais!», respondeu Giotto. E, de facto, o Papa chamou-o logo para trabalhar em Roma, porque tinha percebido o seu talento Excecional!

Fonte: Revista Cidade Nova
Texto: Patrizia Bertoncello
Fotos da Net
© Carlos Coelho

domingo, 7 de junho de 2020

O medo das aranhas


Investigação revela origem da fobia


O medo de aranhas é muito comum. Dizem as estatísticas que uma em cada três mulheres tem medo delas, e que um em cada cinco homens também. Poder-se-ia dizer que é uma reacção natural, parte do equipamento biológico do ser humano com vista á sobrevivência, já que muitas aranhas são venenosas. Foi para testar esta ideia que o psicólogo alemão Georg Alpers, da Universidade de Wurzburg, idealizou uma experiência. Se esta ideia do medo instintivo fosse verdadeira, então as pessoas teriam também medo de outros bichinhos rastejantes ou com ferrões, como as vespas. Mas os resultados mostraram que não, o que levou o investigador a colocar a hipótese de o medo das aranhas ser aprendido. Ver outras pessoas com medo é quanto basta, o que remete para um mecanismo de defesa colectivo, de espécie. “Como no tempo da peste, em que uma pessoa dava o alarme em relação a um bichinho perigoso e todos se acautelavam”, disse Alpers, citado pela revista New Scientist.

Fonte: Revista Notícias Sábado
Texto: Filomena Naves
Fotos da Net
© Carlos Coelho

sábado, 6 de junho de 2020

Há 379 anos


Outra vez independentes


Ao fim de 60 anos de domínio espanhol Portugal voltou a ter um rei português.
A 1 de dezembro de 1640, uma conspiração de nobres acabou com a união ibérica e aclamou rei D. João IV (1604-1656). Quem restaurou a independência e entregou a coroa ao duque de Bragança foram os sucessores dos nobres que em 1580 tinham reconhecido a legitimidade de Filipe I (II de Espanha) porque este lhes garantia os seus privilégios e interesses. Passados 60 anos, não quiseram suportar mais o peso dos impostos, as guerras e as desc0nsiderações do Governo de Madrid.

Quando Filipe II de Portugal (III de Espanha) fez a sua entrada solene em Lisboa, em junho de 1619, foi recebido com festejos. Mas ao fim de poucas semanas de permanência eram constantes os conflitos entre nobres portugueses e espanhóis da comitiva real. Foi o último espanhol a visitar Portugal como rei do nosso país.


Filipe II de Portugal (III de Espanha)

Em 1621, sucedeu-lhe Filipe III (IV de Espanha), que entregou o Governo a Gaspar de Gusmão, conde-duque de Olivares, estadista consciente da decadência do império espanhol e da necessidade de reformas. Uma das principais passava pelo fim da autonomia portuguesa – garantida nas Cortes de Tomar de 1581, que aclamaram Filipe I -  e pela redução do país à condição de província espanhola. Entre outras medidas, notou-se desde logo o agravamento dos impostos destinados a financiar as guerras em que Espanha estava envolvida, com destaque para a “meia anata”, paga pela nobreza, e para o “real da água”, imposto indirecto sobre o consumo da carne e do vinho, que atingia toda a população.


Filipe III (IV de Espanha)

Os nobres começaram a conspirar. Os monges de Alcobaça forjaram documentos “históricos” para legitimar a independência de Portugal, como as actas das Cortes de Lamego. O povo reagiu com revoltas sucessivas, com destaque para o motim das Maçarocas, no Porto, em 1629, e as “alterações de Évora”, em 1637. Os revoltosos chegaram a dominar a cidade alentejana e a publicar manifestos assinados por um tal Manuelino, um louco da terra.

Olivares percebeu que por detrás destas insurreições “espontâneas” estava um movimento organizado visando destruir a união ibérica. Ao rebentar a revolta da Catalunha, em junho de 1640, Olivares convocou todos os nobres portugueses para acompanharem o rei a Aragão.


Revolta da Catalunha, em junho de 1640

A convocatória visava sobretudo o duque de Bragança, D. João, que no ano anterior fora nomeado “governador geral das armas do reino de Portugal”. O cargo destinava-se a mantê-lo sobre vigilância – ou não fosse ele o herdeiro da última dinastia portuguesa, logo o principal pretendente à coroa, no caso de uma eventual restauração da independência.

Sempre que o duque de Bragança saía da sua “corte” de Vila Viçosa e se deslocava a Lisboa ou a outra localidade era recebido com banhos de multidão. Foi o que aconteceu em Almada, em junho de 1639, onde quatro nobres (D. Antão de Almada, D. Miguel de Almeida, Jorge de Melo e Pedro de Mendonça Furtado) lhe expuseram os planos para derrubar o Governo de vice-rainha D. Margarida, duquesa de Mântua.


D. Margarida, duquesa de Mântua

D. João não se comprometeu, mas nomeou um homem da sua confiança, João Pinto Ribeiro, para acompanhar os conspiradores.
Na manhã de 1 de dezembro de 1640, os conjurados entraram no palácio do Governo, ao rossio (hoje palácio da independência), dominaram os guardas, prenderam a vice-rainha, mataram o secretário do Governo, Miguel de Vasconcelos, considerando português traidor, e atiraram-no de uma janela. Foi dessa janela, perante o povo que, entretanto, acorrera ao Rossio, que o velho D. Miguel de Almeida aclamou o duque de Bragança como rei D. João IV.


D. João IV

Os representantes do povo apoiaram desde logo o golpe da nobreza, que contara com a conivência do clero, designadamente do bispo de Lisboa e dos jesuítas.
Apanhado de surpresa, O Governo espanhol tardou a reagir,ocupado com a repressão da revolta da Catalunha. O compasso de espera revelou-se precioso para sobrevivência da nova dinastia portuguesa. Aclamado em todo o país e na maior parte do Império ultramarino (com a excepção de Ceuta), D. João IV mobilizou todos os recursos para a defesa.

A guerra da Restauração durou 28 anos. Em 1668, pelo tratado de Madrid, a Espanha reconheceu a independência de Portugal.

D. Luisa de Gusmão


Antes morrer reinando

Consciente dos riscos que corria como herdeiro dos reis de Portugal, o duque de Bragança ficou conhecido pela prudência que punha em todos os seus actos. Dele se dizia que “era bom confessor: ouvia e calava”. Ao contrário, a mulher, D. Luísa de Gusmão (1613-1666), da mais alta nobreza espanhola, era voluntariosa, e notando no marido sinais de hesitação instigou-o a aceitar a coroa que lhe ofereciam os conspiradores do 1 de dezembro: “Antes morrer reinando que acabar servindo”, terá dito.

Fonte: Revista Notícias Sábado
Texto: João Ferreira
Fotos da Net
© Carlos Coelho

sábado, 23 de maio de 2020

Resplendor do Senhor Santo Cristo dos Milagres, São Miguel Açores


Resplendor do Senhor Santo Cristo dos Milagres, São Miguel Açores


Resplendor ou Diadema, o seu ex-líbris, da autoria de Mateus Vicente de Oliveira e Ambrósio Gottlieb Pollet, pela Coroa de Espinhos, pelo Relicário, pelo Ceptro, e pela Corda, estas joias representam os instrumentos de morte, com que Jesus foi apresentado à multidão no Pretório de Pilatos, sujeito à suprema humilhação, injuriado e escarnecido.

Apenas usadas nas Festas em honra do Senhor e em épocas festivas, estas joias são alvo de uma enorme curiosidade, pelo seu elevado valor material e artístico, não estando expostas ao público.

O Resplendor é a peça mais emblemática deste conjunto. Está replecta de simbolismo religioso. Desde o Cordeiro sobre o Livro dos Sete Selos, a Cruz, o Triângulo simbolizando a Santíssima Trindade, a Píxide com as hóstias, o Pelicano alimentando os filhos, as Galhetas que contém a água e o vinho, o Galo simbolizando a negação de Pedro, o Guião com as letras SPQR, a Coluna da Flagelação, a Bolsa de Judas, os Dados que sortearam a túnica de Cristo, a Coroa de Espinhos, com que coroaram Jesus no Pretório de Pilatos, os Cravos com que foi pregado na Cruz, a Esponja com vinagre com que Jesus matou a sede, a Lança que trespassou o lado do Senhor, a Mão com que foi esbofeteado, a Moca, a Túnica do Senhor, a Cana que Lhe puseram na mão a fingir de ceptro, a Lanterna com que foram procurar Jesus no Horto das Oliveiras, o Azorrague e o Feixe de Varas com que foi flagelado. As Escadas, o Alicate, o Martelo e a Espada, são os instrumentos que serviram na crucificação, o Jarro, a Bacia e a Toalha, com que o Salvador lavou os pés aos Discípulos.
O Resplendor foi considerado a peça mais valiosa do seu género na Península Ibéria, num congresso realizado em Valladolid (Espanha).



Foto: net
© Carlos Coelho

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Vinho


Combate muitas doenças



Muitas são as vantagens que nos oferece um pequeno copo de bom vinho tinto ás refeições, se não existirem contra-indicações médicas.  Quem o diz é Eduarda Alves, nutricionista e dietista responsável pelo site http://www.clinicadosalimentos.pt . mas a mesma especialista sublinha: “todos os benefícios do vinho podem ser obtidos comendo uvas sempre com a pele e as grainhas. Sem os inconvenientes do álcool e do excesso de calorias e açúcar”.

Os principais benefícios do precioso néctar


O vinho tinto é muito rico em resveratrol, um potente antioxidante. É, por isso, útil para diminuir os valores do mau colesterol, ajudando a aumentar os do bom colesterol – HDL. O resveratrol é muito importante para prevenir o envelhecimento. Faz bem à pele: atenua e reduz o aparecimento de rugas.
O vinho tem também grande variedade de polifenóis, que ajudam a prevenir as doenças cardíacas e alguns tipos de cancro. Contribuem ainda, para evitar a degeneração das funções cognitivas. Há até estudos que indicam que uma pequena quantidade diária de vinho (um copo) pode ser um aliado na luta contra a doença de Alzheimer.

Contra-Indicações e desvantagens


É uma bebida muito calórica. Um pequeno copo de vinho8com menos quantidade do que uma “imperial”) contem mais de 180kcal, muitas para um líquido… em excesso (mais de um copo por dia), o vinho danifica-nos todos os órgãos, como por exemplo, o cérebro e, principalmente, o fígado. Provoca cirrose hepática, aumenta os triglicéridos e o colesterol: engorda, entope as artérias, prejudica o coração. Por último, é prejudicial a quem sofre de diabetes.

Os melhores e os piores


Os tintos são os melhores. Mais ricos em resveratrol, o antioxidante que torna o vinho saudável. Os que não têm efeitos benéficos são os mais alcoólicos, licorosos e açucarados. Como o Porto, o Madeira, os abafados ou alguns aperitivos e digestivos baseados em vinho. Embora também não nos façam mal, desde que sejam tomados muito esporadicamente e em doses extremamente reduzidas, por pessoas sem problemas de saúde. Os vinhos saudáveis são os de qualidade, puros – até, se possível, biológicos. Escolha um de qualidade, o que é possível por menos de cinco ou seis euros. Pode pedir ajuda a um amigo ou familiar que seja entendido no assunto, pesquisar ou ler as publicações especializadas. Evite os vinhos muito trabalhados e alterados. O vinho deve ser natural, seguir sem pressas todas as suas etapas de maturação tradicionais.

Sabia que… por ter licopeno, o vinho ajuda a prevenir o cancro da próstata, mama e pulmões.

Fonte: Revista NovaGente
Texto: Vasco Ventura
Fotos da net
© Carlos Coelho

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Cristo-Rei



O cristo-Rei foi construído em 1959, com o dinheiro dos fiéis e destinava-se a agradecer a Deus o facto de Portugal não ter participado na II Guerra Mundial. Nessa altura, a cerimónia que decorreu com pompa e circunstância, reuniu 300 mil pessoas e contou também com a presença da imagem de Nossa Senhora de Fátima, que, na altura, saía, assim, pela sexta vez do santuário mariano.


Dia 17 de Maio assinala-se o 61.º aniversário do santuário de Cristo-Rei, em Almada.
História

1934 - O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel G. Cerejeira, passeia-se pelo Rio de Janeiro e fica abismado com a imponência de Cristo Redentor, desejando construir algo semelhante em Lisboa.

1940 - Os bispos portugueses, reunidos em Fátima, decidem que será erguido um monumento ao sagrado Coração de Jesus se Portugal for poupado à II Guerra Mundial, iniciada no ano interior.

1949 - Portugal não entra na guerra, após uma campanha nacional de recolha de fundos, é colocada a primeira pedra, no dia 18 de dezembro.

1959 - A 17 de Dezembro (Dia de Pentecostes), o Cristo-Rei é inaugurado. A imagem de Nossa Senhora de Fátima marca presença na cerimónia, na qual estiveram os cardeais do Rio de Janeiro e de Maputo.

Fonte: Revista Maria / Ronnie Venâncio
Fotos da Net
© Carlos Coelho

quarta-feira, 20 de maio de 2020

A história do Bilhete de Identidade


Da aldeia de mata do Rei, onde vivia, ao Registo Civil de Santarém, António Cândido demorou cinco horas. Foi de mula, na altura o único meio de transporte de que dispunha. O adolescente, com 15 ou 16 anos, tinha recebido uma bicicleta do pai, mas, para aproveitar o presente, precisava de tirar o bilhete de identidade (BI). “Naquela altura, era necessária identificação para andar de bicicleta”, explica o antigo moleiro, hoje com 92 anos.

Em Santarém, o processo foi rápido. Apresentou a cédula de nascimento, pôs o dedo indicador direito num papel, para deixar registada a impressão digital, e explicou porque queria o documento. “O meu pai só o tirou já adulto. Precisou dele para ter licença de carroço. Tinha uma azenha e um moinho de vento para fazer farinha, que transportava para Santarém.”


O BI do primeiro Presidente era uma espécie de caderneta amarela. data de 1914

Detalhes. O cartão de Manuel de Arriaga discriminava a cor do seu cabelo e barba e uma cicatriz do lado direito da cabeça.

Na época, 1936 ou 1937, os bilhetes de identidade eram documentos mais detalhados do que são hoje. Além do nome, data de nascimento, filiação, naturalidade, altura impressão digital e fotografia, o BI de António Cândido tinha indicações sobre sinais particulares, cor da barba, do cabelo, dos olhos e da pele. O formato também era diferente: em vez do cartão amarelo ainda hoje em uso (embora em substituição gradual pelo cartão de cidadão), os portugueses da primeira metade do século XX tinham uma caderneta desdobrável. Era um documento de três páginas preenchido à mão.

No mês de Março de 2014, o BI fez 100 anos. Desde 1914 que é usado para provar a identidade dos cidadãos. Os primeiros registos de identificação em Portugal são do século XVI. Em pleno período dos Descobrimentos, os capitães das naus apontava o nome, alcunha, estado civil, filiação e naturalidade dos marinheiros. Era uma forma de saberem quem levavam a bordo, embora não existisse qualquer papel oficial. Só bastante mais tarde, na Primeira Republica, surgiu essa necessidade: percebeu-se que era preciso ter um registo dos cidadãos porque havia cada vez mais pessoas a viver nas cidades e tornava-se difícil identificá-las quando morriam.
O investigador e antigo inspector da Policia Judiciária, Francisco Moita Flores, diz que foi esse problema de identificação dos corpos que deu origem à palavra “morgue”. “A palavra francesa morguer significa observar com atenção. Na prisão de Paris, havia uma sala enorme numa cave, com uma claraboia com grades. Os presos iam para essa sala e os guardas ficavam a olhar para eles para tentarem memorizarem as suas feições, caso fugissem ou reincidissem. Não havia outro método de identificação”, explica.

Com o aparecimento do bilhete de identidade em Portugal, em 1914, parte destes problemas de reconhecimento acabaram: o documento tinha fotografia e impressão digital. Mas não só: possuía também informações detalhadas sobre os traços físicos. Um dos primeiros portugueses a tirar o BI foi o antigo Presidente da República, Manuel de Arriaga. O documento, que data de 1914, e que hoje pertence ao espólio do Museu da Presidência da República, tinha três páginas. Indicava que o líder republicano vivia no Palácio de Belém, tinha uma cicatriz na cabeça, do lado direito, cabelo e barba de cor branca. Estas informações eram ainda complementadas com duas fotografias, uma de perfil, outra de frente, que ocupavam a parte central da caderneta amarelada. Por baixo das imagens, está a data em que foram tiradas: 1911.

A identificação de Fernando Pessoa, o documento estava escrito em três línguas: português, Inglês e Francês. 


O poeta trabalhava na área do comércio e é com essa profissão que aparece identificado. Tirou-o em 1928, um ano depois de ser obrigatório para todos.

Desde que foi criado oficialmente e até 2007 (ano em que começou a ser substituído pelo cartão de cidadão), o bilhete de identidade sofreu várias mudanças. De um cartão com três páginas cheio de detalhes sobre a aparência física, passou a documento plastificado com menos informação, mas mais difícil de ser copiado. Em 1952, por exemplo, chegou mesmo a haver uma versão diferente para as pessoas que viviam nas então províncias ultramarinas: em vez de só se recolher a impressão digital do dedo indicador, punham-se as dos 10 dedos.

Nos primeiros tempos, o BI não servia para verificar oficialmente a identidade dos cidadãos. Só em 1919 a lei estabeleceu que o documento podia servir como prova. Se, por exemplo, alguém duvidasse do nome verdadeiro de uma pessoa, era preciso levar duas testemunhas que atestassem o Registo Civil a veracidade da informação. Nessa época, o BI português tinha uma validade de cinco anos e era um dos mais modernos da Europa. O director do Arquivo de identificação da Catalunha chegou a anunciar que o iria copiar por o considerar um dos mais bem feitos da época.

Apesar de admirado, o documento enfrentou resistências em Portugal quando, em 1926, se tornou obrigatório para todos os funcionários Públicos. Como as impressões digitais e as fotografias eram até então usadas para identificar presos e mortos, alguns trabalhadores ficaram irritados ao perceberem que iriam ter um documento como o dos criminosos, com as mesmas características. Chegaram mesmo, de acordo com o Diário de Notícias, a enviar um grupo de representantes ao Senado. “Estavam alarmados”, dizia o jornal, porque, segundo a lei, deixariam de receber salário se não tivessem o tal cartão. Além do mais, ainda tinham de pagar 50 escudos para a sua emissão.

Apesar da contestação, a polémica lei do BI foi aprovada. “ A ideia era cruzar o registo criminal com o registo civil. O estado queria ter um papel mais vigilante”, explica à Sábado Maria Rita Lino Garnel, investigadora do Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa. O estado também pretendia distanciar-se da Igreja e converter tanto o casamento, como o divórcio ou a morte, em actos civis e não apenas religiosos.


As impressões digitais começaram por ser utilizadas nos boletins de identificação dos cadáveres. Esta ficha data de 1911.

Um ano depois, em 1927, o cartão tornou-se obrigatório para todas as profissões. O poeta Fernando Pessoa, que então trabalhava no comércio, tirou-o a 28 de agosto de 1928. O documento estava escrito, como determinava a lei, em três línguas: português, francês e inglês. E tinha apenas uma fotografia do escritor.

Até se democratizarem, na década de 50-60, os bilhetes de identidade continham frequentemente informações vagas e imprecisas. Quando, em 1930, com apenas 12 anos, Maria Rosalina pais tirou o seu cartão, os funcionários do Registo Civil escreveram no espaço destinada á altura: “a crescer”. A antiga professora primária, hoje com 94 anos, precisou daquele documento para se matricular no Liceu Filipa de Lencastre, em Lisboa. Na época, o cartão só era necessário para circunstâncias específicas, como estudar, trabalhar, viajar ou para qualquer acto público. “Por exemplo, a minha mãe só o tirou aos 80 anos, quando o meu pai morreu, para poder receber o subsídio”, conta à Sábado.

A antiga professora primária recorda-se de que já naquele tempo o documento era valioso. “As pessoas tinham muito medo de o perder, por isso guardavam-no com cuidado.” Além disso tirar o bilhete de identidade era uma espécie de “prova iniciática”, acrescenta a historiadora Maria Rita Lino Garnel. “Punha-se um vestido bonito, ia-se bem lavado e penteado.”

A Evolução do BI

Passou de caderneta desdobrável a cartão de uma página

1914. Aparecem os primeiros cartões. Têm três páginas e, além do nome, filiação e naturalidade, incluem duas fotografias, uma impressão digital do dedo indicador, assinatura e informações sobre altura, cor da pele, olhos, cabelo, barba, sinais particulares e residência.


1918. Os bilhetes de identidade passam a ter apenas uma foto. Estão escritos em três línguas: português, francês e inglês.

1926. Começam a ter espaço para registar alterações do nome do cônjuge e do estado civil. Tornam-se obrigatórios para todos os funcionários públicos.

1957. São reduzidos a duas páginas e impressos exclusivamente em língua portuguesa. Emitem-se dois modelos: um para cidadãos nacionais, outro para estrangeiros.


1970. Passam a ter apenas uma página e são plastificados. Um ano depois, começam a ser informatizados. Os documentos escritos à mão são cada vez mais raros.

1986. É obrigatório usar fotografia a cores nos bilhetes de identidade.


1992. É introduzido o plástico à volta do cartão e uma faixa de segurança por cima da fotografia, que se encontra do lado direito.

2007. O BI começa a ser gradualmente substituído pelo cartão de cidadão.

Fonte: Revista Sábado
Texto: Ana Catarina André e Lucília Galha
Fotos: Museu da Presidência da República; Espólio Casa Fernando Pessoa
© Carlos Coelho

terça-feira, 19 de maio de 2020

Pá Salazar


Só os portugueses lhe chamam Salazar


Espátula, raspador, raspadeira, rapa-tudo, rapa-tachos. Por vários nomes responde esta pá, mas nenhum nos traz tantas memórias como «salazar». E esse leva-nos de volta a outros tempos de crise e escassez.

Utensílio de serventia comprovada nas casas portuguesas, o nosso melhor salazar é feito de pinho ascético e borracha sinuosa, materiais que conservarão melhor as suas qualidades se forem lavados à mão. Outra coisa não se recomenda a um objecto que ainda hoje se rebela contra a era da máquina, afirmando-se como puro artesanato e não carecendo de outra energia senão a do corpo humano.
Nesse aspecto, o salazar é e será sempre um resistente, avesso á industrialização e ao consumismo – tal como o homem que, sem querer, o baptizou. «Devo à Providência a graça de ser pobre», disse enquanto geria com rigor draconiano a economia do país.

Na sua habilidade em chegar ao fundo dos tachos e das tijelas, extraindo o remanescente, o salazar é insuperável. É também, um símbolo da igualdade culinária, já que não faz distinção entre a massa exuberante de um soufflé de camarão e um prosaico pão-de-ló, a todos rapando com a mesma eficácia.
Inquirindo junto dos vivos, há quem ainda se lembre dele talhado somente em madeira, com a parte aplanada fina. Hoje conhecemo-lo com o toque do plástico ou do silicone, banalidade compensada por muitas cores e eventual design que não chegam para fazer esquecer o genuíno salazar que figura na foto.

Fabricado por uma empresa familiar do Porto, passou para a loja Vida Portuguesa e daí para o Museum of Modern Art (MOMA) em Nova Iorque e Tóquio, exibe-se agora, ao lado da torradeira de alumínio ou da vassoura de palha, numa montra de produtos genuinamente portugueses.
Salazar que raramente saía do país e gostava das solas dos sapatos até se romperem, teria certamente achado tudo isto uma enorme falta de modéstia.

Fonte: Revista Notícias Magazine
Fotos da Net
© Carlos Coelho

segunda-feira, 18 de maio de 2020

A estratégia das formigas



Surgiram como uma praga nos jardins de Budapeste, em 1990, vindas do Leste e, de acordo com uma pesquisa realizada por investigadores europeus, não tardarão a chegar ao Norte da Europa. As invasoras são as formigas Lasius neglectus, que já foram detectadas também nos Jardins do Reino Unido e de Espanha. Em Portugal, que se saiba, ainda não. Mas é talvez uma questão de tempo. Porquê?
Porque estas formigas têm uma estratégia que as torna poderosas colonizadoras, como descobriram os cientistas. Vivem em pequenas redes de ninhos interligados, têm várias rainhas e transitam livremente entre os ninhos, o que torna a sua propagação um sucesso. O problema dizem os cientistas, é que são uma ameaça à biodiversidade.

Fonte: Revista Notícias Sábado
Texto: Filomena Naves
Fotos da Net
© Carlos Coelho