sábado, 8 de junho de 2013

Fatehpur

Índia
Diwan-i-Khas
De passagem pela Índia, e com paragem obrigatória em Deli, pude dar um passeio até Agra e uma saltada a Síkri.

Feito o balanço destes dois dias, eis o relato de um olhar que pousa pela segunda vez numa das mais belas maravilhas do mundo, o Taj Mahal, e em estreia absoluta na cidade real de Fatehpur Síkri.
Sempre que aterro na Índia, acho que já nada me espanta. O que verdadeiramente me desperta a cada chegada é a energia que paira e se desprende, e obrigando-me a apurar os sentidos.
Tomb of Sheikh Salim Chishti

A cidade de Deli, a terceira maior do país, é a porta de entrada para o fabuloso passeio do Triângulo de Ouro, que nos leva rumo a uma Índia mais profunda.
Gosto de voltar a sentir o fervilhar da cidade de Deli. Já de noite, organizo in extremis um passeio para conhecer Fatehpur Síkri. Fica para lá de Agra e o comum dos turistas não a visita, porque a estrada é péssima e tudo serve de demora.
Anup Talao (lagoa), a plataforma no meio foi usado para concursos de canto

Sei que vale a pena o esforço e alugo um carro. O meu guia, de olhar brilhante e turbante vermelho, fala um francês fluente e, como se eu fosse uma estreante, explica-me detalhadamente tudo o que irei poder ver. O trajecto até Fatehpur síkri leva quatro horas; atravessamos pequenas localidades com um trânsito caótico onde tudo acontece. Nesta marcha lenta, mas apesar de tudo gostosa, consigo apreciar o colorido local.


A cidade real de Fatehpur Sikri foi fortificada no século XV e mandada construir pelo Imperador Akbar Mughal. A Arquitectura é tão bela quanto surpreendente, e leva-me a querer saber mais da sua história. Trabalhada a tijolo e a pedra local, salta à vista a mistura de estilos e de elementos islâmicos e hindus. Demorou quinze anos a ser construída e no final, por falta de água, tornou-se um lugar fantasma, onde hoje já nada se passa.
Esta herança histórica actualmente serve apenas para deleitar um olhar silencioso e espreitar devagar os esplendorosos palácios de janelas rendilhadas, os sucessivos pátios de magníficas proporções, jardins e piscinas, tudo feito em tijolo. A mancha geral deste pequeno reino reflecte, consoante a hora do dia, tonalidades incríveis, do rosa-purpura ao vermelho. Ali, mais nenhuma cor é possível a não ser a das mulheres locais, que balanceiam os seus saris fulgurantes. São imagens lindas, a guardar para sempre.

Taj Mahal


De regresso a Agra, quero novamente emocionar-me diante do Taj Mahal, olhar essa fabulosa jóia construída, em nome do amor, pelo marajá Shah Jahan. Já lusco-fusco, aproximo-me dessa obra fantástica. Debruçada no varandim superior que antecede o acesso ao mausoléu deixo-me inebriar pela beleza do lugar sem mesmo me aproximar. A perspectiva é soberba, do lago estreito e comprido vejo as cúpulas, alvas e perfeitas, projectadas nas águas cinzentas. Revejo com minúcia as janelas trabalhadas, qual filigrana, e volto a constactar que a pedra branca e luminosa foi trabalhada por mãos divinas.
Fonte: Revista Caras
Texto: Maria da Assunção Avilez
CarlosCoelho

Rubens


Rubens
 
Peter Paul Rubens nasceu em 1577 em Siegen, Alemanha, onde o pai, Jan Rubens, um conceituado advogado de Antuérpia que se tornou amante da mulher do príncipe Guilherme de Orange, se exilaria. Após a morte do pai, a mãe regressa a Antuérpia com os filhos e Rubens passa a receber uma educação católica. Aos 21 anos, enquanto ajudante de Van Veen, é admitido na guilda dos pintores de Antuérpia. Viaja até Italia , onde conhece  o seu futuro mecenas, Vicenzo Gonzaga, duque de Mântua. O duque confia-lhe algumas missões diplomáticas que o levam a Espanha. Regressa a Antuérpia em 1608, por causa da morte da mãe, e no ano seguinte casa-se com Isabella Brant, de 17 anos. Entre 1622 e 1630 é igualmente requisitado como diplomata e pintor, dividindo-se entre as viagens e as encomendas de vários monarcas. Em 1630, quatro anos após a morte de Isabella, casa-se com Hélène Fourment, de 16 anos. Morre de gota aos 63 anos.
  

Com a exposição Rubens, la Adoración de los Magos, na qual, além de várias obras-primas do pintor flamengo, são apresentados os esboços feitos por Miguel Ângelo para a Capela Sistina, o Museu do Prado.
Poucos anos depois de ter sido executado, este quadro foi enviado para Madrid, passando a fazer parte da colecção real de Espanha. Vinte anos mais tarde, quando Rubens visita Espanha, entre 1628-1629, e se encontra com a obra, decide reformula-la e modifica uma série de detalhes. Decide mesmo aumentar o quadro em cima e na margem direita.
Até 1620 Rubens desenvolve dois estilos alternados, um pictórico, marcado pelos mestres italianos, com recursos a cores fortes e brilhantes, com apontamentos amarelos e vermelhos, e outro mais clássico, consistindo numa composição elaborada de cores frias. Considerado o pintor mais importante do barroco flamengo, Rubens, fosse qual fosse o tema ou a estrutura compositiva ou mesmo a utilização da cor, imprimia à obra o cunho de um grande colorista, a complexidade compositiva e a mestria de um magnífico desenhador, impregnando-a ainda com o seu estilo de vida alegre e livre.
“Adoração dos Reis Magos”, óleo sobre tela, pintado em 1609 para a Câmara de Amberes.
 
Fonte: Revista Caras
CarlosCoelho
 
 

 

 

Santa Rita

 
Há, pelo mundo, uma infinidade de santos espraiando-se pelos dias do ano, pela toponímia e até pelos bilhetes de identidade. Alguns foram adoptados pelo povo. A Humilde Rita, mulher doce mas “vulgar”, não realizou nenhum milagre espectacular. Mas é venerada com um afecto familiar, porque tinha o dom de ajudar os mais desafortunados.
A vida póstuma dos santos é imprevisível, tanto como a dos homens ilustres, os artistas os escritores, que o futuro esquece ou imortaliza, abandona ou retoma sem que nenhuma autoridade a isso se possa opor. Quem lê nos nossos dias Sully Prudhomme, primeiro prémio Nobel da Literatura em 1901, e que universitário previu o impacto posterior de dois pobres diabos como Lautréamont ou Rimbaud? Ao declarar que Santa Rita era a mais popular das santas, a par de Santo António de Pádua, o Papa João Paulo II constatou a amplitude de uma veneração que a Igreja não tinha encorajado.
António de Pádua, canonizado no ano seguinte ao da sua morte, permaneceu muito tempo na sombra do santo Francisco de Assis antes de conhecer um sucesso fenomenal e inopinado. Do mesmo modo, a humilde Rita de Cascia, falecida em 1427, só foi beatificada em 1628 e canonizada em 1900, como se a Igreja apenas a contragosto tivesse registado a intensa piedade em redor da “patrona das causas desesperadas”.
Os objectos perdidos e as causas desesperadas talvez participem de uma dimensão do impossível demasiado sedutora para os espíritos ingénuos que exigiram poderes exorbitantes, mais mágicos do que os que cabem num santo decente. Mas se o Papa nomeia os santos, o povo nem sempre espera para eleger os seus.
O Professor Yves Chiron nota na sua “Verdadeira História de Santa Rita” (Perrin,2001) a dificuldade de traçar com certezas os passos da vida de Rita sem que possamos ainda assim duvidar da sua existência. Por tudo isso, se associarmos, como aqui, à presença dos santos na vida quotidiana dos fiéis a verdadeira história e as provas científicas (nomeadamente as dos seus milagres), tudo importa menos que a sua lenda, princípio irracional e activo através do qual intercedem a nosso favor junto do Céu. A de Rita é constante, com variações mínimas.
Os seus pais, António Lotti e Amata Mancini, são camponeses piedodos que vivem na Úmbria, 150 quilómetros a norte de Roma, e desesperam por ter uma descendente; uma voz – um anjo – anuncia a Amata que vai dar à luz uma filha e que lhe deverá dar o nome de Rita, em honra de Santa Margarida (margarida quer dizer “pérola” em latim). Rita nasce a 22 de Maio de 1381 em Roccaporena,, perto de Cascia. A pequena vila de Roccaporena, apesar de isolada a 700 metros de altitude nos montes Apeninos, não ignora os problemas que devastam o mundo abaixo. Enquanto em França a Guerra dos Cem Anos arruína o reino, a peste faz milhares de vítimas em toda a Europa.
Quanto à Igreja, atravessa uma crise desde 1378, a do Cisma do Ocidente. O Papa Gregório XI, exilado em Avinhão, regressou a Roma para morrer. Urbano VI, que lhe sucede, deve afrontar um outro papa, depois um terceiro. Urbano VI e Clemente VII entregam-se a uma luta sanguinária e violenta, pouco cristã, para ocupar a sede de S. Pedro. Rita, contemporânea de Joana d’Arc (nascida 31 anos antes da virgem francesa, vai sobreviver-lhe 28), testemunhará também esta época de grandes desordens, reagindo à sua maneira, discreta e menos militar.
Casada com Paolo
 
Tem um ano e dorme numa alcofa debaixo de uma árvore, num campo onde trabalham  os seus pais, quando um camponês que acaba de se ferir com a foice vê um enxame de abelhas voar em torno da pequena. As abelhas entram na sua boca sem a picar; ela sorri. O Camponês tenta enxotar os insectos e a sua mão já ferida cura-se de imediato. Os pais, a vila, não sabem como interpretar este presságio.
É educada na oração e no amor de Deus, dedicando-se desde adolescente a tratar dos seus pais entretanto velhos, recusando quais quer enfeites femininos; sonha perto dos 14 anos em abraçar a vida religiosa: Os seus pais planeiam para si algo diferente e um dia dão a sua mão a um certo Paolo. Rita começa por protestar: esta decisão vai contra os seus projectos, Paolo passa por um sedutor, brutal e alcoólico. Depois submete-se à vontade dos pais, reflexo da vontade de Deus; este Paolo, de uma condição social superior à sua, saberá socorre-los melhor que ela própria.
A sua vida de casada é infeliz. Paolo é um alcoólico violento a quem Rita trata com tanta paciência e doçura que os seus vizinhos a apelidam “ a mulher sem rancor”. Rita jejua com frequência, encarando este casamento como uma mortificação e reza pela saúde do marido. De facto, depois de 18 anos de calvário conjugal, quando ela traz ao mundo dois gémeos, o carácter de Paolo adoça-se, ele arrepende-se sinceramente, converte-se e o casal conhece enfim uma felicidade de pouca duração.
Paolo fez muitos inimigos antes da sua conversão; uma noite estes fazem-lhe uma emboscada e apunhalam-no. Paolo morre perdoando-lhes o crime. Rita perdoa também aos assassinos do seu marido, mas os dois filhos dominados pela cólera, como antes o seu pai, esperam vingá-lo. Rita suplica-lhes em vão que nada façam e dirige-se a Deus: que ele os leve para junto de si antes que se tornem criminosos. Os gémeos caem à cama doentes pouco depois e convertem-se ao morrer.
Noviça em Cascia
De ora em diante sem família, Rita é livre para realizar a sua vocação religiosa. Bate á porta do mosteiro de Cascia, mas por três vezes as irmãs augustinas recusam-lhe a entrada. A congregação instituída para jovens raparigas não acolhe viúvas. É também possível que entre os religiosos se encontrem alguns familiares dos assassinos de Paolo. Rita procura reconciliar os clãs hostis da vila e uma noite de natal S. João Baptista, S. Agostinho e S. Nicolau levam-na para o mosteiro. A abadessa, descontente por um tal patrocínio, aceita Rita como noviça, mas coloca-a à prova.
Não lhe poupam nem os vexames, nem as humilhações e a sua paciência não fraqueja. Ordenam-lhe absurdamente que transporte cada dia um pedaço de madeira. Rita obedece e a madeira floresce e dá uvas. Uma vez admitido que professe, empenha-se em seguir a regra de S. Agostinho. Pouco a pouco a sua reputação espalha-se: os que se lhe dirigem vêem as suas preces cumpridas. As orações de Rita são ouvidas no Céu, o que não deixa de provocar a inveja das suas irmãs.
Em 1443, numa sexta-feira Santa, Rita está em oração diante do crucifixo do altar. Um espinho de gesso da coroa de Cristo cai sobre ela, atingindo-a em plena fronte. No dia seguinte, a ferida agrava-se e exala um odor repugnante. Algumas religiosas do mosteiro interpretam este estigma como uma punição pelos momentos dramáticos da sua vida passada. A ferida só fecha durante uma peregrinação a Roma pelas festas do Jubileu e, de regresso a Cascia, reabre-se, purulenta e tão mal cheirosa que Rita é isolada numa cela, onde vive observando um jejum quase absoluto.
 
Durante o Inverno de 1457, exausta, pede à sua prima que lhe leve uma rosa do seu antigo jardim. No meio do jardim coberto de neve, a prima descobre uma rosa esplêndida; leva-lha. Esta renova-se com duas flores. No termo das suas forças, Rita recebe os últimos sacramentos e expira a 22 de Maio do mesmo ano, com 76 anos. No instante da sua morte, a sua ferida transforma-se num rubi, as roupas transmutam-se, a cela nauseabunda é inundada de luz e de um perfume delicioso. Há cinco séculos e meio que o seu corpo repousa, intacto e suave como uma rosa, diz-se, num caixão de vidro na basílica de Cascia.
 
Santa do último recurso
De onde vem o culto dedicado a Rita? Ela não fundou uma ordem religiosa nem produziu escritos espirituais, os prodígios que pontuam o seu percurso terreste são pouco espectaculares, nenhum tirano a torturou; somos tentados – exceptuando a parte dos embelezamentos habituais na matéria, a parte das flores – a ver nela uma mulher memorável, doce mas “vulgar”.
Ora é precisamente por isso, porque ela não foi muito diferente de tantos outros mortais, que a veneramos com um afecto quase familiar. Porque, apesar dos obstáculos, perseverou, obstinada e pacificadora, numa vocação que lhe tinham interdito. E decerto, como confirma já tarde a inveja das suas irmãs rivais, porque ela tinha a arte de vir em ajuda dos mais desafortunados, um dom de advogada dos “casos desesperados”.
 
Para milhões de crentes, nem sempre católicos, ela acalma as tempestades, resolve as situações sem saída, cura os incuráveis. Com ou sem razão, ela encarna a santa do último recurso, aquela que nunca abandona os que apelas à sua bondade. Intocáveis ex-votos e livros de ouro concedem-lhe graças, unânimes e muitas vezes anónimas.
Para além da Basílica de Cascia, uma enorme quantidade de igrejas ou capelas são-lhe dedicadas um pouco por todo o lado, como em Nice, em Saint-Aignan, perto de Rouen. Duas delas são singulares, apesar de tudo, por motivos bem diferentes. Em Paris, no boulevard 65 de Clichy, no altar do liceu Jules- Ferry, uma capela de Santa Rita pertence à paróquia de Trinité. Longe de possuir os faustos barrocos da de Nice, é um local austero, mesmo pobre, despido de ornamentos e mal assinalado, um vulgar rés-do-chão em pleno Pigalle, no meio das “sex-shopes” e diante do Moulin Rouge. Como se a Igreja, dedicando a Rita esta antiga capela do século XIX, tivesse querido responder ao desejo legítimo expresso pelas prostitutas de terem um local de oração reconhecido.
Sem pretender igualar maria madalena, a pecadora amiga de Cristo, estas “mulheres da má vida” consideraram a sua vida suficientemente má, tolerada com hipocrisia e cinicamente explorada, para merecerem este asilo discreto. Daqui a confusão que por vezes se estabelece, fazendo de Rita a patrona das mulheres de rua. A amálgama é falsa.
Para além disso, por uma comparação algo condescendente, consideramos que apenas Rita pode reconfortar um “caso tão desesperado” como o das prostitutas: Mas a capela acolhe maioritariamente fiéis homens ou mulheres, jovens ou velhos, que nada têm a ver, nem nutrem nenhuma atracção pelo comércio da carne.
Missa para os animais
No número 27 da rua François-Boivin, no bairro 15, ergue-se outra igreja mais clássica, com nave de estilo gótico e vitrais, na Paróquia de Santa Rita. Construída no fim do Século XIX pelo Igreja Apostólica de Inglaterra, durante muito tempo fechada, foi reaberta em 1986 para se transformar em sede da Igreja Francesa Anglicana.
Não desenvolvemos a longa história do anglicanismo francês, nascido em 1870 em reacção ao dogma da infalibilidade pontifical. Não discutiremos a validade do título de arcebispo reivindicado pelo seu responsável.
Monsenhor Dominique Philippe é um homem agradável que não desenhas os holofotes, os estúdios de televisão, e goza de um certo vedetismo. No portão da Igreja de santa Rita, há fotos que o mostram na companhia de Michéle Mercier (actriz francesa), eterna Marquesa dos Anjos, ou do Conde de Paris. Adquiriu uma verdadeira popularidade celebrando uma missa para os animais, que benze cada ano desde 1993, aos primeiros domingos de maio e Novembro. “ No ìnicio, o Monsenhor Di Falco (agora porta voz dos bispos de frança) mostrou-se zeloso, mas eu disse-lhe que se acalmasse. Benzemos viaturas, barcos. No seu tempo, Pio XII benzeu canhões… Os animais, esses, têm alma.”
A missa dos animais também se tornou – sob patrocínio de S. Francisco de Assis – num estranho momento de folclore ligeiro, difundido pelos “média” com o apoio de numerosas associações de amigos dos animais e adversários de touradas. A Igreja de Santa Rita povoa-se de cães, de gatos, de pássaros em gaiolas; na rua, cabras, porcos, burros esperam pela sua vez, mesmo lamas e um dromedário. Cantores entoam com afinco “ Miau, miau!” no irresistível “Duo dos gatos” de Rossini; enquanto Monsenhor Philippe, imperturbável, sacode o seu hissope sobre os pássaros, os quadrupedes com toda a espécie de pelagem e a todos dá a absolvição.
O que pensa Santa Rita, anfitriã involuntária desta cerimónia? Antes de mais, a questão da alma dos animais dos animais remonta à Antiguidade: E se a sorte sorridente da maior parte dos cães e gatos conduzidos sobre o seu tecto não é um “caso desesperado”, ninguém sabe se a solidão dos seus companheiros humanos o não será.
Fonte: Jornal Público/ “ Le Monde”
Texto: Michel Braudeau
CarlosCoelho

terça-feira, 28 de maio de 2013

Cafeína

Cuidado com os excessos
 
Mais de 90  por cento dos portugueses consomem cafeína diariamente e um terço da população chega mesmo a beber café em excesso. Conheça os números em pormenor, saiba as respostas às dúvidas mais frequentes e siga os conselhos que evitam malefícios para a sua saúde.
O café, o chá e as bebidas de cola são as formas mais habituais de ingestão de cafeína. E, vendo as coisas com clareza, quem é que não gosta de um café a seguir à refeição, uma cola fresquinha para “matar” a sede ou um chá bem quente nos dias frios?
De acordo com um estudo efectuado em cinco países europeus (Portugal, Espanha, Itália, França e Bélgica), sobre a cafeína e as suas repercussões na saúde, no qual a DECO/PROTESTE colaborou, 92 por cento dos portugueses consomem bebidas com cafeína. Em Portugal, os principais consumidores de refrigerantes com cafeína e de bebidas energéticas são os jovens entre os 15 e os 25 anos, enquanto que o café e o chá são consumidos por pessoas com idades acima dos 25 anos. Mas será este consumo excessivo? Na verdade, os n´meros no nosso país são considerados moderados (cerca de dois a três cafés por dia), uma vez que cerca de 63 por cento dos portugueses consomem diariamente o máximo de dois cafés. Contudo 27 por cento abusa da cafeína.
 
Mitos ou realidade?
Perante a cafeína há quem veja virtudes, enquanto outros apontam problemas. Mas será que estamos mesmo informados?
Importa desmistificar alguns mitos:
A cafeína é psicologicamente estimulante?
Não está provado. Os consumidores acreditam que melhora o desempenho, mas não existem estudos que sustentem esta crença. O estímulo sentido reflecte apenas a anulação dos efeitos negativos provocados pela falta de cafeína a que o corpo está habituado.
Afasta o sono?
Não está provado. As pessoas dizem que sim, mas não há estudos que comprovem.
Aumenta a tensão arterial?
Sim. A ingestão de cafeína provoca um aumento da tensão arterial. Mas não se pode afirmar que potencia o desenvolvimento da hipertensão. Em todo o caso, quem sofre desta doença deve moderar o consumo.
Devem evitar-se excessos durante a gravidez?
Sim. O consumo elevado durante a gravidez está associado a atrasos de crescimento no feto e ao baixo peso dos recém nascidos. O consumo excessivo está também associado a um aumento de probabilidade de aborto espontâneo. Deve-se evitar o consumo durante a gravidez.
Provoca Cancro?
Não está provado. Alguns estudos defendem que o consumo de cafeína pode ter um efeito protector em determinados tipos de cancros (ex. cólon), mas outros indicam que pode aumentar o risco (ex. pâncreas). Não se encontrou uma relação inequívoca entre cancro e consumo de café, registando apenas indícios.
Produz efeitos benéficos em algumas doenças?
Sim. Estudos revelam que o consumo diário de cafeína, se moderado, pode ter um efeito protector em relação à doença de Parkinson ou ao desenvolvimento, entanto, um consumo excessivo, associado a uma alimentação pobre em cálcio, pode prejudicar a densidade óssea das mulheres na menopausa.
Conselhos importantes
Se aprecia café, chá ou bebidas à base de cola, não esqueça que:
Moderação é a palavra de ordem. Isso corresponde a um máximo de 300 miligramas por dia, o equivalente a dois ou três cafés. Mas nem todas as pessoas toleram esta quantidade.
As pessoas mais sensíveis à cafeína devem evitar bebidas com esta substância ou optar por tipos de café com menos cafeína, como o arábico, ou mesmo o descafeinado.
Se pretende reduzir a dose de cafeína que consome por dia, deve fazê-lo de forma gradual. A interrupção brusca pode provocar mal-estar.
Se estiver grávida evite a cafeína ou reduza ao mínimo o seu consumo.
As crianças devem ter cuidado na ingestão excessiva de cafeína, pois pode estar na origem de alterações de comportamento.
De que depende a quantidade de cafeína?
No café
Depende da quantidade de café utilizado, do modo de preparação, já que as máquinas de café expresso e as com filtro fazem um café com o dobro da cafeína daquele que é feito nas cafeteiras expresso, e também da variedade do café utilizado.
Nos refrigerantes
 
Quem define a quantidade de cafeína nas bebidas refrigerantes é o próprio fabricante; a concentração desta substância varia de país para país.
No chá
 
A concentração de cafeina no chá depende do tempo que está em contacto com a água e, á semelhança do café varia de acordo com o modo de preparação, a quantidade e a variedade utilizada.
Fonte: Revista “Teste saúde” nº 50
Agosto / Setembro 2004
CarlosCoelho

domingo, 26 de maio de 2013

Picadas de Morte

As férias são, por excelência, momentos inesquecíveis. Mas muitos destinos de sonho podem transformar-se em autênticos pesadelos. São necessários cuidados e na hora de fazer as malas não se devem esquecer as legiões de mosquitos e moscas que podem ser fatais.

 

Malária – Transmite-se através de um mosquito que existe em quase todo o continente africano, parte da América Central e do Sul e  ainda a sul da Ásia. Febre, anemia, insuficiência renal, convulsões e dificuldades respiratórias são alguns dos sintomas. Não existe vacina, pelo que é necessário proteger-se contra as picadas. Deve consultar-se um médico antes da viagem.
 

Febre Amarela – O período de incubação desta doença grave, que mata um em cada quatro contaminados, é de cerca de uma semana. Pela sua gravidade, a vacina da febre-amarela é obrigatória em cerca de 40 países do hemisfério sul.

Dengue – Causada por um mosquito, trata-se de uma doença caracterizada por febres altas, dor de cabeça e muscular. Existe na região dos Trópicos, na África, Caribe e Ilhas do Pacífico. Não há vacina.

 
Doença do Sono – Provocada pela mosca tsé tsé, tem cura, mas o tratamento implica o recurso a fármacos tóxicos que acarretam riscos importantes para a saúde.
 

Febre Tifóide – É mortal, mas existe vacina para esta doença.
 

Encefalite Japonesa B – O mosquito que a transmite, através de picada, existe em determinadas regiões da Ásia. É uma doença que pode ser mortal ou deixar sequelas graves.
 

 

Fonte: Revista Nova Gente nº 1456
32/04/NG – Infografia Impala/Caldeira
CarlosCoelho

Cemitério Subaquático

Uma cidade feita de cimento e cinzas Cemitério Subaquático
 
O primeiro cemitério subaquático de Mundo inspirado na lendária cidade de Atlântida. Deverá ser construído al lado da costa da Florida, por baixo de uma pequena ilha de coral, e poderá abrigar as cinzas de 21 mil pessoas. O caricato de tudo isto é que as cinzas farão parte do material de construção das colunas, estátuas e praças da cidade. Para este efeito serão misturadas com cimento, moldadas em terra e depois descidas ao fundo do mar por uma grua.
O eterno descanso neste cemitério único é um luxo reservado aos mais abastados. Um simples lugar no pavimento da cidade custa cerca de 1500 euros, mas quem quiser “descansar” no cimo de uma coluna terá de desembolsar 3900 euros. Para os mais arrojados, com sonhos a rondar o plano do divino, o preço dispara. Uma estátua do deus Neptuno, por exemplo, pode atingir um milhão de euros. Gary Levine, empresário responsável pelo projecto, tem a certeza de que haverá muitas encomendas do género.
 
A inspiração veio-lhe quando soube que  entre seis e  sete milhões de urnas, contendo cinzas cremadas, são guardadas em armários, sótãos e garagens. Não gostou disso e decidiu que os defuntos mereciam um lugar melhor para o seu eterno descanso. Depois foi fácil avançar com o projecto, já que na Flórida escasseia terreno para abrigar os que deixam o mundo dos vivos.
 
Os interessados terão oportunidade de visitar o estúdio do escultor, onde as cinzas são misturadas com o cimento. Findo o trabalho, mergulharão até à ultima morada do seu ente querido, a fim de lhe prestar homenagem.
 
Sidney, o pai de Gary Levine, falecido há 5 anos, com a idade de 81 anos, será o primeiro nome da lista. Os seus restos mortais até já foram retirados do Cemitério dos Veteranos, onde antes se encontravam.
 
Fonte: Revista Noga Gente nº 1456
Texto: Ana Vasques de Sousa
Fotos: Ferrari Press Agency
CarlosCoelho

Henri Cartier-Bresson

Portugal a preto e branco

O francês que se transformou no pai do fotojornalismo morreu no dia 2 de Agosto de 2004. Tinha 95 anos e mostra imagens  que Henri Cartier-Bresson tirou durante uma viagem a Portugal, em 1955.
Ficou conhecido como o olho do século. Morreu com 95 anos e foi enterrado na intimidade, em Montjustin, onde vivia, na sua casa típica da Provença. Jacques Chirac, o presidente francês disse dele: “Era um fotografo genial, um verdadeiro maestro, um dos artistas mais dotados da sua geração e um dos mais respeitados em todo o Mundo.” Henri Cartier-Bresson nasceu em Chanteloupe perto de Paris, a 22 de Agosto de 1908, no seio de uma família de industriais. Fotografou, como ninguém, a alma de 23 países, a guerra civil espanhola, a morte de Ghandi  e a queda de Pequim; foi o primeiro fotógrafo ocidental a entrar na União Soviética depois da morte de Staline… Depois, decidiu guardar a sua Leica e dedicar-se à sua outra paixão: o desenho. Mas antes, captou o Portugal interior.

 

Ao lado, um polícia sinaleiro, uma carruagem, carros e carris para os eléctricos: assim era o terreiro do Paço, em Lisboa. Em cima, o Alentejo, pobre e deserto, dos anos 50.

 

Na nazaré, no tempo em que os bois puxavam os barcos.

 
Ao Lado, o Estoril dos velhos tempos, mas burguês e animado como ainda é agora. Em cima, Amália Rodrigues, a diva do fado vista por um francês.

 

Fonte: Revista Nova Gente
Fotos: HCB/Magnum Photos /Fototeca e Rauters
CarlosCoelho

Palácio Nacional da Pena

Símbolo da arquitectura romântica nacional


Residência real de veraneio, o Palácio Nacional da Pena constitui uma das expressões máximas do romantismo aplicado ao património edificado no século XIX em Portugal.

A cerca de 30 quilómetros de Lisboa, no cimo da serra de Sintra, ergue-se, em majestade, o símbolo maior da arquitectura romântica nacional, o Palácio Nacional da Pena.


Residência real de veraneio, este paço acastelado foi mandado construir por D. Fernando de Saxe Coburgo-Gotha (1816-1885) com quem a nossa rainha D. Maria II (1819-1853) contraiu matrimónio a 9 de Abril de 1836, na Sé de Lisboa.
Na construção do Palácio foram aproveitadas as ruínas de um pequeno convento já existente neste local, mandado edifica no século XVI pelo Rei D. Manuel I, em comemoração da segunda viagem do navegador Vasco da Gama à India.
O pequeno convento Jerónimo de Nossa Senhora da Pena estava, no momento em que foi adquirido pelo rei-consorte em 1838, em avançado estado de ruína na sequência do terramoto que arrasou Lisboa em 1755 e da extinção das ordens religiosas, decretada em 1834.

O projecto inicial consistia na recuperação do antigo convento, mas a pequenez das instalações para os fins em vista levou o mecenas à ampliação da construção com um conjunto de novas construções a que se chamou o Palácio Novo. Este projecto de maior envergadura, que corresponde á parte do edifício de tonalidade amarela e revestido a azulejos, teve a colaboração do barão Von Eschwege, engenheiro de minas alemão que se encontrava entre nós.


O gosto romântico do rei-artista (como D. Fernando II ficou conhecido entre nós) aliado a uma versatilidade de interesses como as artes decorativas, a pintura, a escultura e o seu grande entusiasmo pelos espaços verdes levou á criação de um magnífico jardim romântico, sendo o parque da Pena um exemplo acabado do paisagismo pitoresco tão ao gosto da época plantado uma invulgar colecção de plantas e árvores que são hoje ex-libris do verde sintrense.


O Palácio Nacional da Pena constitui um exemplo de tendências arquitectónicas e decorativas ímpares do período romântico e da riquíssima personalidade de D. Fernando II. A estrutura arquitectónica de características únicas explorando o ideário nacional, o eclectismo e o exotismo oriental e islâmico criaram o programa romântico de todo o conjunto constituindo-se, espaço verde e espaço edificado, como “obra de arte total”.


Uma estrutura arquitectónica de características únicas emolduradas pela beleza da Serra de Sintra.

Fonte: Jornal Diário de Notícias
22 de Janeiro de 2006
Texto: José Manuel Carneiro / Ippar


Depoimento

Um bálsamo para os espíritos mais exigentes
É a coisa mais bela que tenho visto. Este é o verdadeiro Jardim de Klingsor – e, lá no alto, está o Castelo do Santo Graal.
Richard Strauss, referindo-se ao Palácio da Pena
Qualquer caminho que conduza o visitante a Sintra encontrará como marco de referência o Palácio da Pena, bem no alto da Serra de Sintra. Venhamos nós das praias, nesses dias únicos de fogosos entardeceres, ou do pouco romântico IC19, que entroncava algures na mítica Estrada de Sintra, o certo é adoçarmos o olhar quando entrevemos o Castelo da Pena.
A Pena é um lugar mágico a que não se escapa. Consta já desde o século XII que aquele era um local de devoção cristã por ter sido testemunhada a aparição de Nossa Senhora sobre uma penha. Mas será só com D. Manuel que o mosteiro da Pena viverá uma ampliação, permitindo receber, condignamente, a Ordem dos frades Jerónimos. Com o passar dos séculos começará a sua lenta degradação que culminará com a extinção das ordens religiosas em 1834.
Mas, tal como num conto de fadas de “era uma vez”, surge D. Fernando II que , em 1838, arremata em hasta pública por 700 mil réis o Mosteiro de Nossa Senhora da Pena, ressalvando o Diário do Governo que a compra se fazia “ com expressa cláusula de ficar o arrematante obrigado a cuidar da sua boa conservação(…), visto ser um monumento nacional, e conter uma Igreja um retábulo de primorosa escultura”.
D. Fernando apaixonou-se por Sintra e, após a morte de D. Maria II, casou, anos mais tarde, com a cantora lírica Elisa Hensler, a condessa d’Edla. E será a cumplicidade do casal que irá permitir o fabuloso nascimento do Palácio e Parque da Pena.
Convido-vos a visitar ambos, porque é ainda perceptível o desvelo aplicado na reabilitação do Palácio, bem como a exuberância patente nas múltiplas espécies arbóreas existentes no Parque.
Não posso nem quero terminar este meu singelo depoimento sem uma palavra de homenagem à direcção do Ippar e em particular ao Director do Palácio da Pena, que desde há alguns anos mantém uma perfeita ambiance, aguardando, em qualquer momento, a chegada do rei, para jantar…
Sem saudosismos do passado mas sabendo recriar a História, a Pena foi, e será um bálsamo para os espíritos mais exigentes. Para os restantes, comuns mortais, resta-nos o anseio do Poeta de uma outra Serra:
“Pelo sonho é que vamos!”
Fonte: Presidente da Câmara Municipal de Sintra
Dr. Fernando Seara
Por: CarlosCoelho