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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

René Magritte

A Caixa negra de Magritte

O pintor surrealista que transfigurava objectos quotidianos, tem uma nova casa. Um museu com o seu nome, em Bruxelas, com alguns quadros que nunca reconheceríamos como “magrittianos”. A casa de um homem é como a sua alma: diversa


A metáfora arquitectónica assenta como uma luva a René. O Museu Magritte, inaugurado em Junho de 2006, é um grande edifício de linhas clássicas e janelas quadradas, dispostas em fileiras obedientes, que, no interior, se transfigura radicalmente em caixa negra. Como um cara e coroa a três dimensões. Um L’Empire des Lumières em escala rebentada.
Recordam-se deste quadro? Mostra a paisagem serena de uma rua, com uma casa semioculta no arvoredo, um céu de dia claro, pintado em cima, em baixo as cores de uma noite iluminada, por um candeeiro público. Um enigma pictório que levanta a pergunta «é isto possível?» aos espectadores. A realidade do mundo é, afinal, a aceitação do mistério, patente em muitos trabalhos do pintor. 

L’Empire des Lumières

L’Empire des Lumières está declinado em duas versões, uma de 1954, outra de 1961, na exposição patente no Museu: um mundo dividido em cinco andares, onde se  abriga a maior colecção de pinturas de René François Ghislain Magritte, o belga nascido na cidade de Lessines, a 21 de Novembro de 1898. Surrealista discreto, capaz de grandes rasgos.
Esse é o verdadeiro truque de prestidigitação, não a fachada renovada do antigo hotel Altenloh, na Place Royale. Nem as imagens mais conhecidas do artista que defendia que a realidade não era algo em que se pudesse confiar. Magritte desenhou objectos de contornos realistas em cenários oníricos, desarrumados em paradoxos ou contradições. 


Ele é  o artista que pintou um célebre cachimbo com a legenda Ceci N’est Pas une Pipe («Isto não é um cachimbo»). Não era um cachimbo, porque não se podia fumar com ele, linguagem provocatória para recordar que a   representação  de um objecto nunca é o próprio objecto. 

La Durée Poignarde

Dele são também os quadros em que um comboio fumegante sai de uma vulgar chaminé (La Durée Poignarde) desenhada a partir da que se encontrava na sala de estar da sua casa. 

Black Magic, 1945

Ou aqueles em que o corpo nu de uma mulher se funde num céu de nuvens brancas (Black Magic, 1945). Ou ainda as imagens em que homens de chapéu de coco e sobretudo descem dos céus ou se apresentam de rosto ausente ou tapado por uma maçã. Cite-se o pintor belga para ajustar os binóculos que permitem entender este universo: «Ver é um acto.» Ainda que o próprio René, enquanto estudante de artes, tinha ido visitar o Museu Ufizzi, em Florença, lá permanecendo apenas meia hora entre obras-primas e explicando que era bom, mas que «os postais também funcionavam».

Visitações

É de outra ordem o jogo de ilusão provocado pela visita ao excelente Museu Magritte. Não sai nem de uma cartola de mágico nem de um qualquer chapéu de coco. Revela-se na surpresa de encontrar coisas novas num universo que se pensava já decifrado, repetido e esgotado em muitos postais. Há lugar para a ampla divulgação, por exemplo, da sua obra gráfica, quando trabalhou com o irmão antes de o sucesso chegar, cartazes publicitários ou ilustrações para partituras de música, de surpreendente eficácia. Ou para uma selecção de retratos dedicados a  patronos e amigos, mulheres loiras bizarramente sorridentes, mecenas que lembram sábios gregos. Há até a encomenda da companhia aérea Sabena, um óleo que mostra uma pomba a sobrevoar uma pista de aterragem, em L’Oiseaux de Ciel (1966).

L’Oiseaux de Ciel (1966

No espaço, pontuado por fotografias e citações nas paredes do próprio Magritte, o artista é-nos  dado num permanente jogo de revelações e ocultações. Em recantos inesperados, há manuscritos e filmes de época mostrando as brincadeiras domésticas com os amigos e a mulher, Georgette – fiel a todas as horas, de quem o museu mostra retratos da jovem lindíssima que era. Por ela, doente em Bruxelas num período difícil em que a guerra devastava a Europa, Magritte virá do Sul de França onde se refugiara, a primeira parte da viagem feita de bicicleta. 

Georgette 

Com medo e remorso. Há , aqui, quadros que contam essa história: arbustos de aves feridas e mochos vigilantes, como os povos mal tratados; ou a leveza do grande pássaro de nuvens a sobrevoar um ninho de Le Retour (1940).

Le Retour (1940

Há que andar entre andares organizados cronologicamente, e entre as esquinas desta caixa negra para ver estas obras, muitas delas que não se associaram à sua produção fortemente inspirada no quotidiano – nem que seja no dos sonhos deste rapazinho de família pobre, que aos 12 anos descobriria o corpo da mãe, fazedora de chapéus, que se suicidara. Sobe-se pelo elevador, cujos andares se vão revelando partes de um corpo: primeiro piso, uns pés. Depois, joelhos, um sexo feminino, uns seios, até chegar a  um rosto de mulher, última paragem, o topo do seu mundo. É esse o lugar onde decorrerão as exposições temporárias do espólio vasto: aqui está a produção integral das obras de Magritte, desde os anos académicos até ao último trabalho que deixou incompleto. O pintor seria primeiro influenciado pelo  construtivismo até ter uma epifania, em 1923, ao conhecer o trabalho de Georges de Chirico – talvez o primeiro pintor a abrir caminho para o território dos sonhos. É fácil de ver esse impacto no quadro L’Homme du Large (1927), uma silhueta sem rosto. 

L’Homme du Large 1927

Influenciado pelo cinema e pela literatura de Poe, Stevenson e Fantomas, passa pelo chamado Período Negro. Mas Magritte descobriu-se Magritte depois, com o manifesto surrealista proclamado em 1924 por André Breton. E nós descobrimos outro Magritte, ainda depois da ruptura com o escritor francês.

Experiências

Magritte fará a sua própria interpretação do pensamento sem travões morais do surrealismo, mesmo estando próximo do movimento: por exemplo, convidava o grupo para baptizar os seus quadros.

La page Blanche 

La page Blanche foi alterado por causa deles: a lua crescente passou a ser uma lua cheia pintada sobre os ramos das árvores, coisa impossível. A ruptura, brutal com o surrealismo, foi provocada também por aquilo a que alguns chamam o Período Renoir de Magritte: quadros próximos do universo impressionista, de cores vivas e traços arrastado de pincel, sóis que giram como os girassóis de Van Gogh, mulheres arco-íris que descansam na relva, árvores narigudas e fantasistas como fábulas infantis. A raiva causada pelo repúdio originou o que é, no museu, uma parede de grande impacto: convulsão de caricaturas e borrões de tinta em cores ácidas mas sem alegria, alinhada em cerca de 40 quadros, feita por Magritte em menos de 15 dias, e a que se chamou o Período Vache. A inspiração foi buscá-la a uma subversão dos comics, na altura uma produção bem-comportada. Magritte olha para  artistas cáusticos, expressionistas antes de tempo. No fim da parede, há um quadro com outro tom: La Part du Feu (1948), o que se tem de abandonar para atingir algo de maior. 

La Part du Feu 1948

Uma mulher estende um prato a um homem deitado numa cama com um candelabro aos pés, alusão a uma última refeição. É-nos dito que talvez Magritte queira representar o funeral do surrealismo que ele tanto amou.
René Magritte defendia que as suas pinturas eram concebidas «como so sinais físicos da liberdade de pensamento». 

Le Domaine d’Arnheim 1962

E é em nome dessa liberdade, que no fim da caixa negra, atordoados por tantos símbolos e imagens oníricas, esmagados por esse quadro imenso da montanha  em forma de águia de Le Domaine d’Arnheim (1962) e confrontados com a palavra «rêve» («sonho») numa edificação de pedra em L’art de La Conversation(1950), é-nos lembrado que a interpretação que verdadeiramente interessa, e lhes interessava, é a de que olha. A nossa.

L’art de La Conversation 1950


Fonte: Revista Visão
Texto: Silvia Souto Cunha
Fotos : Revista Visão / Net
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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Raul Dufy


No dia 23 de Março de 1953 as artes Plásticas perderam um dos seus cultivadores mais apaixonados – o pintor Raul Dufy.
Em 1952, na Bienal de Veneza – onde lhe reservaram uma sala no Pavilhão francês -, obteve o grande prémio da pintura internacional. Repórteres procuram-no para entrevistas – encontram-no a pintar uma procissão na Praça de S. Marcos.
No Verão de 1952, em Genebra, tem uma última alegria ao ver a exposição retrospectiva organizada pelo Museu desta cidade.
Já não assistiu à inauguração da bela exposição do Museu de Arte de Paris – que até hoje nunca consagrara tão grande certame a um só pintor. O catálogo desta exposição – prefaciado por Jean Cassou e anotado por Benard Dorival – assinalava mais de 260 obras.


Com setenta e cinco anos Dufy demonstrou sempre, com clareza e serenidade, o seu bom humor e a sua agudeza de observação.
Gravador, pintor, ceramista, cartazista, decorador de teatro, de tecidos e tapeçarias, em tudo demonstrou talento.
Jamais se poderá olvidar o gravador das madeiras do Bestiaire, de Apollinaire; ou o gravador dos cobres de La Belle Enfant. É inegável que se lhe deve a ressurreição da gravura no livro de luxo.
As cerâmicas decorativas dos jardins-miniaturas de Artigas são duma enorme graciosidade.
Em pleno período 1910/25, em que as Artes Plásticas sofrem forte influência do «ballet» russo, da exposição de Artes decorativas de Munique, do Salão de Outono (Paris, 1910) e sobretudo das criações do costureiro Paulo Poiret, em 1920 Dufy torna-se um inovador da impressão de tecidos – O Caçador é simplesmente admirável.
As tapeçarias O Sena, O Oise,e o Marne dão-nos outra bela faceta deste homem elegante e levemente trocista.
Além de tudo isto executa a maior pintura mural feita nos últimos séculos – a decoração para o Pavilhão da Electricidade da Exposição Parisiense de 1937. Nestes magníficos painéis – que fazem a história da electricidade – estão expressos todos os dotes deste pintor: a profunda fantasia, a imaginação apoiada na realidade e a riqueza infinita da sua cor.


Esta última qualidade, a cor da sua paleta, creio bem que se filia no facto do seu nascimento no Havre. Foi a busca da cor, feita sem a menor nota de pessimismo, com um ar de simplicidade, que levou certos apressados a considera-lo um petit-maitre, foi essa busca que o levou a ser impressionista aos 21 anos, fauvista na maturidade, estudante apaixonado dos processos de Cezanne e admirador profundo de Van Gogh.
Os azuis, os verdes-amarelados, os vermelhos e os negros dos seus quadros hão-de ajudar a romper uns restos de falso academicismo porventura ainda existente.

Fonte: Almanaque Diário de Notícias (1954)
Texto/Autor: Joaquim Navarro
Foto da Net
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sexta-feira, 8 de julho de 2016

Vincent Van Gogh

Pintura escondida


 Van Gogh escondido

Uma equipa de investigadores belgas e holandeses descobriu uma pintura de Van Gogh, oculta por outro quadro do mesmo autor, de 1887. O retrato de uma camponesa de Neunen, pintado pelo artista holandês por volta de 1885, esteve 121 anos escondido por outro quadro, que Van Gogh terá pintado dois anos mais tarde e que mostra um prado, apenas com flores e ervas do campo. Segundo os especialistas, a imagem agora descoberta é muito semelhante á série de retratos que Van Gogh pintou na cidade de Neunen. Um dos quadros dessa fase do pintor, intitulado Os Comedores de batatas, é considerado uma das obras-primas de Van Gogh.
Van Gogh reciclava frequentemente os seus trabalhos. Acredita-se que um terço dos seus quadros possam ocultar outras pinturas.

Entre os 10 quadros mais caros de sempre, três são da autoria de Van Gogh.


Retrato do dr.Cachet é o terceiro mais caro (69,1 milhões de euros


Depois dele surgem ainda Auto-Retrato com Barba (59,9 milhões de euros


Os Lírios (45,1 milhões de euros

Fonte: Revista Sábado
Fotos da net
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domingo, 5 de junho de 2016

António José Maia Pereira

Arte por Júlio Quaresma

António José Maia Pereira nasceu em Santo Tirso, em 1959, no seio de uma família de proprietários agrícolas. Desde muito cedo manifestou-se a sua vocação para as artes, para a qual foi incentivado por Fátima Azevedo, a sua professora no ciclo, e pela mãe que, desde os 5 anos de idade, o via desenhar sobre o pavimento de xisto negro da casa e, um pouco mais tarde, fazer os seus próprios brinquedos.
Entre 1980 e 85, licencia-se em pintura na Escola de Belas Artes do Porto, onde teve como mestres os pintores Domingos Pinho e Pedro Rocha, e chega mesmo a ser assistente nos últimos anos. Nessa mesma escola conhece Ana de Castro, escultora com quem vem a casar-se, em 1986. Nesse mesmo ano parte para Londres onde ficou a residir até 2000, altura em que regressa a Portugal. Faz uma pós graduação na St. Martins School em 86, e, em 89, e a vez do mestrado no Royal College.


“Botão”. Óleo sobre tela (75x100cm),datado de 2001

Galardoado com vários prémios, entre os quais se destacam o prémio “Benetton” da St. Martins School (86), o “Allen Lane Penguin Book”, no Royal College (89), e os primeiros prémios nacionais de pintura: I Bienal AIP (94) e Jovens Artistas BCM (95), José Maia apresenta-nos uma obra consolidada nos meios londrinos e sobretudo nas séries das Inundações, apresentadas na European Academy for Arts, que corporiza uma pesquisa sobre o tempo, os seus próprios fantasmas e a dimensão da pintura.

Fonte: Revista Caras
Texto: Júlio Quaresma
Fotos da Net
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quarta-feira, 1 de junho de 2016

Frida Kahlo

Corrida contra a morte


Reza a história que Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón nasceu na manhã quente de 6 de Julho de 1907 na Cidade do México.
Aos 17 anos sofreu um terrível acidente foi perfurada por um corrimão de ferro, num autocarro – qua a obrigou a usar cintas ortopédicas durante dois anos. Forçada a viver deitada, começou a pintar.


(Esquerda: Diego Rivera no seu estúdio. Direita: Frida Kahlo no Jardim da sua casa.)

Recuperada, ‘foi atrás’ de Diego Rivera – o mais famoso pintor mexicano do século XX, por quem nutria uma grande admiração desde os seus tempos de menina – para que este lhe desse uma opinião sobre os seus primeiros trabalhos. Nessa altura, vivia a chamada ‘fase masculina’, ou seja, tinha especial aptidão para se vestir como se fosse homem. Mas, ao conhecer Diego, mudou. Rauda Jamis (‘Frida’) recorda que depois de ter encontrado Diego, trocou o trajo masculino pela imagem típica da mulher mexicana, usando saiotes, rendas, vestidos coloridos…”.


(Frida Kahlo na sua pintura no estúdio, Retrato de Meu Pai.)

Segundo Le Clézio (‘Diego & Frida’), Diego Rivera era “um homem provocador, inquietante, mentiroso, violento, vingador e terrivelmente sedutor na sua imensa fealdade…”. Mesmo assim, Frida apaixonou-se por ele e, contra a vontade da mãe, casou com o pintor, vinte e um ano mais velho que ela, em 1929. 

Ele era mulherengo, infiel e um péssimo marido. Mas o amor de Frida por este homem venceu todos os obstáculos. Casaram, perderam um filho, divorciaram-se e voltaram a casar. Eles partilhavam a paixão pela pintura. A vida de Frida Kahlo fou pautada pela dor e pela doença.


( Esquerda : Frida Kahlo no seu quarto. Direita: Frida Kahlo e Dr. Juan Farill fotografado na sua casa.)

Nunca recuperou do acidente que teve e o seu estado físico foi-se agravando. No entanto era uma mulher bonita, apesar das suas deficiências e, principalmente, determinada. Passou uma longa temporada nos EUA, ao lado de Diego e, em 1939, deslocou-se para Paris onde inaugurou uma exposição. Nessa altura, a Europa aplaudiu esta artista ‘Exótica’ e Frida conheceu Picasso, Breton, Duchamp e Kandinsky, entre outros. Farta das infidelidades, decidiu viver as suas próprias aventuras amorosas. 


A primeira ocorreu com Leon Trotski, quando este se refugiou em sua casa no México. Seguiram-se outros casos, como o fotógrafo Nickolas Muray. Mas foi ao lado de Diego que, aos 47 anos de idade, morreu. Entre os vários escritos de Diego encontra-se este: “Frida é o único exemplo na história da arte de alguém que arranca o seu próprio seio e o próprio coração para dizer a verdade biológica que sente neles”.

Fonte: Revista Correio da Manhã Domingo Magazine
Texto: Sofia Rato
Fotos da Net
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quarta-feira, 11 de maio de 2016

Salvador Dali

Herança maldita

 
Quando Salvador Dali disse “ Para mim, o erótico deve ser sempre feio, o estético divino e a morte bela “ nunca imaginou que, após a sua própria morte (23 de Janeiro de 1989), os direitos de utilização das suas obras fizessem correr tanta tinta…
A mais recente sentença, saída de um tribunal alemão, estabelece que a Demart Pro Arte, dirigida por Robert Descharnes – amigo e colaborador íntimo do pintor espanhol, tem todos os direitos sobre a obra de Dali e obriga a sociedade de autores Bild Kunst a pagar àquela empresa todas as transacções realizadas até ao momento, incorrendo numa multa de 250 mil de euros. A sentença serve também para o estado espanhol, a Fundação Gala-Dali e a companhia Vegap – dentro do território da Alemanha, até 11 de Maio de 2004, data em que expirou o contrato celebrado entre Dali e o amigo.

O tribunal civil de Frankfurt, na Alemanha, determinou ainda que  a sociedade de autores do seu país deve entregar a Descharnes toda a  informação relativa às licenças outorgadas desde 1997, altura em que decidiu rescindir o contrato que existia entre as partes, condenando-a igualmente a pagar à empresa Demart todos os gastos e perdas ocasionais pelas suas ações.
 
Toma lá dá cá contudo a fundação Gali-Dalí representante legal do Estado espanhol- não reconhece tal sentença, nem tão pouco a veracidade do contracto realizado entre o pintor e o amigo, afirmando que o mesmo foi apenas verbal. Um processo que se adivinha moroso, já que não se vislumbra uma solução satisfatória para os homens que fazem um braço-de-ferro sem cessar – Robert Descharnes, empresário e  Ramon Boixodós, presidente da fundação – ambos interessados na gestão dos direitos de propriedade intelectual do pintor.

Senão vejamos já em Setembro de 1994, o Ministério da Cultura espanhol enviara uma carta a Robert descarnes advertindo-o de que o documento firmado entre ele e Dalí não era um contrato de cedência de direitos, mas sim um mandato verbal que se extinguiu imediatamente após a morte do pintor. Mas há mais. Em Março um julgado de primeira estância de Madrid despojou Descharnes de tais direitos em benefício do Estado espanhol. Ficou ainda sentenciado que; até Janeiro de 2003, a Demart Pro Art deverá dar conta da sua gestão e entregar bens e rendimentos obtidos ao longo dos anos ao Ministério da Cultura espanhol.
 
O descobrimento da América por Cristóvão Colombo 
 
Ainda sobre a decisão do tribunal alemão, a fundação e o Estado espanhol consideram que a mesma não interfere na situação actual nem no contencioso existente entre a Demart e a Fundação. Esta entidade não só remeteu a sentença para o território Alemão, como é peremptória em afirmar que a tudo isto se sobrepõe as palavras de Dalí. “ Sempre que haja qualquer dúvida, dever-se-ão pautar pela legislação espanhola”. Quanto à cobrança, diz fonte daquela instituição que “Demart cobra agora à Bild Kunt, mas mais cedo ou mais tarde terá de prestar contas ao Estado Espanhol”.

Fontes de discórdia discreta tem sido a postura de Robert Descharnes, mas o empresário não deixa os seus créditos em mãos alheias e já recorreu ao tribunal de oito países, em quatro dos quais obteve sentença favorável contra o Estado espanhol e a Fundação Gala-Dalí. Os tribunais do Japão, França e Suiça reconheceram a veracidade do contrato celebrado entre Dalí e o seu colaborador sobre a “utilização dos direitos de propriedade intelectual” do mestre, vigente até 2004. Contudo tanto a Fundação como o Ministério da Cultura espanhol minimizam as sentenças de outros países. Alegam que compareceram apenas no tribunal francês para solicitar que se suspendesse o processo e afirmam que “determinar os direitos sobre a obra do pintor é competência dos tribunais espanhóis”.
 
O grande masturbador
Fonte da Fundação afirmou que o país vizinho lhe deu ouvidos, tanto que Descharnes foi expulso da sociedade de direitos franceses (ADAGP) e, ainda que tenha havido irregularidade nesta expulsão, a verdade é que nada se alterou. O Juiz não concedeu àquela sociedade de autores o direito de gerir a obra de Dalí em representação da Demart.

Mas afinal a quem pertence a exploração dos direitos de autor de Salvador Dalí? Para já é uma incógnita. Por muito surreal e bizarro, este é um conflito que se adivinha interminável e, infelizmente é graças a ele que muitos países não têm podido apreciar a obra do mestre espanhol. Sobretudo quando se trata de exposições comissariadas por Robert Descharnes.

O mestre Excêntrico

As suas aptidões para as belas-artes manifestaram-se bem cedo. Filho de um notário de Figueres, Salvador Dalí nasceu em Port Lligart, a 11 de Maio de 1904 e, desde muito jovem, dedicou-se ao desenho e à pintura. Em 1922 entrou nas Belas-Artes, em Madrid, e durante a sua estada na residência de estudantes manteve uma grande amizade com o Poeta Garcia Lorca e o cineasta Luis Buñuel, com o qual levou a cabo numerosos projectos artísticos vanguardistas.
Depois de estudar em Madrid e de participar nos debates artísticos renovadores dos anos 20 na Catalunha, Dalí rumou a Paris e integrou-se num grupo de pintores e escritores surrealistas. Deste período datam algumas das obras que o converteram num dos máximos representantes do surrealismo, como “O grande masturbador” ou “O Espectro do sex-appeal”.
 
 
O Espectro do sex-appeal

Em 1929 conheceu a jovem russa Helena Diakonova, conhecida por Gala, que se tornou sua modelo e companheira. Com o ínicio da Segunda Guerra Mundial, Salvador Dalí e Gala estabeleceram-se durante alguns anos nos Estados-Unidos, onde a sua pintura de estilo realista e onírica obteve enorme êxito.
Dali converteu-se num dos pintores mais famosos do outro lado do Atlântico mas em 1948 regressaria  à Europa.
A religião, a história e a ciência ocuparam grande parte da sua obra durante os anos 50 e 60. “A Última Ceia” e “O descobrimento da América por Cristóvão Colombo” são desse período e das pinturas mais conhecidas de Dalí.
 
Fundação Gala-Salvador
 
Nos anos 70 o pintor dedica-se à criação e inauguração do Teatro-Museu Dali em Figueres, onde se encontra exposta a maior colecção da sua obra, e em 1983 criou a Fundação Gala-Salvador Gali, a instituição que gere, protege e fomenta o seu legado artístico e intelectual.

Fonte: Revista Correio da Manhã Domingo
Texto de: Teresa Oliveira
Fotos da Net

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© Carlos Coelho 

domingo, 3 de abril de 2016

Quinten Massys

A doença da Duquesa feia


 É o quadro mais popular da National Gallery, em Londres. Chama-se The Old Woman (A Mulher Velha, em Português), mas é conhecido como A Duquesa Feia. A obra pintada em 1513 pelo pintor flamengo Quinten Massys, retracta uma aristocrata com feições grotescas. Tão grotescas que durante décadas foram consideradas fruto da imaginação do artista. Mas, após um estudo realizado pelo University College, de Londres, descobriu-se que a senhora existiu mesmo e que sofria de uma doença raríssima.

Segundo Michael Baum,, professor de cirurgia do University College, a retratada sofria da doença de Paget, uma deficiência no metabolismo que alarga e deforma os ossos. Costuma afectar apenas os membros inferiores, mas em casos muito raros ataca o crânio.

O quadro, incluído na exposição Faces do Renascimento: Van Eyck a Ticiano, inaugurada no dia 15 de Outubro de 2008 na National Gallery, serviu de inspiração a outros artistas. O ilustrador sir John Tenniel, por exemplo, baseou-se nele para desenhar a Duquesa do livro Alice no País das Maravilhas. E até Leonardo da Vinci, ou pelo menos um dos seus aprendizes, copiou o retracto. Pensa-se aliás que os dois artistas trocavam desenhos.

Fonte: Revista Sábado
Foto da Net
© Carlos Coelho

domingo, 11 de janeiro de 2015

Ercole Pignetelli


Ercole Pignetelli nasceu em Lecce, Itália, em 1935, numa villa do século XVII, e começa por se deslumbrar com as formas e cores dos bordados da avó materna. Apesar da oposição familiar, de 1950 a 1953 estuda no Instituto de Arte Giuseppe Pellegrino com o escultor Aldo Calò e Luigi Gabrielle, enquanto frequenta o estúdio de Lino Surpressa, que patrocina a sua primeira exposição no Circolo Cittadino. Em Milão, em 1954, conhece Lucio Fontana e o poeta Basilo Real, de quem ilustra o primeiro livro, Forse il Mare. Em 1957 cumpre serviço militar na Força Aérea. Em 1960 conhece Kline, na Bienal de Veneza, que o convida a participar numa colectiva onde expõem também Tamayo e Warhol, entre outros, e em 1978 expõe na Bienal de Veneza. Foram-lhe atribuídos vários prémios, como o San Fedele e o Ramazzotti.




Nesta obra, Pignatelli faz uma interpretação livre da obra O Nascimento de Vénus, de Botticelli, um dos mestres maiores da pintura do Quatrocento Italiano. O pintor repete aqui um processo de apropriação similar ao que já havia assumido relativamente à obra de Picasso, em 1965, quando sente a necessidade e de se tornar mais instintivo, ou em relação à obra de Di Chirico, em 1967. Depois de, em 1964, já em Milão, a sua pintura ter assumido um universo cromático mais cintilante e ácido e as figuras femininas tornado mais “rotundas”, Pignatelli percorre um léxico, sobretudo no que se refere à figuração, um pouco entre as gramáticas formais de Léger e as do neo-realismo – às quais Picasso também aderiu no inicio da década de 20.



O pintor incorporou nas mesmas toda uma sensualidade barroca, potenciada pela cor e pela exploração sensorial das texturas, a que aliou recentemente a volúpia e a inconstância do espelho. Pignatelli persegue na sua obra a emoção e a sensação aliadas à luminosidade e á cor.

Fonte: Revista Caras
Texto: Arte por Júlio Quaresma
© Carlos Coelho

sábado, 8 de junho de 2013

Rubens


Rubens
 
Peter Paul Rubens nasceu em 1577 em Siegen, Alemanha, onde o pai, Jan Rubens, um conceituado advogado de Antuérpia que se tornou amante da mulher do príncipe Guilherme de Orange, se exilaria. Após a morte do pai, a mãe regressa a Antuérpia com os filhos e Rubens passa a receber uma educação católica. Aos 21 anos, enquanto ajudante de Van Veen, é admitido na guilda dos pintores de Antuérpia. Viaja até Italia , onde conhece  o seu futuro mecenas, Vicenzo Gonzaga, duque de Mântua. O duque confia-lhe algumas missões diplomáticas que o levam a Espanha. Regressa a Antuérpia em 1608, por causa da morte da mãe, e no ano seguinte casa-se com Isabella Brant, de 17 anos. Entre 1622 e 1630 é igualmente requisitado como diplomata e pintor, dividindo-se entre as viagens e as encomendas de vários monarcas. Em 1630, quatro anos após a morte de Isabella, casa-se com Hélène Fourment, de 16 anos. Morre de gota aos 63 anos.
  

Com a exposição Rubens, la Adoración de los Magos, na qual, além de várias obras-primas do pintor flamengo, são apresentados os esboços feitos por Miguel Ângelo para a Capela Sistina, o Museu do Prado.
Poucos anos depois de ter sido executado, este quadro foi enviado para Madrid, passando a fazer parte da colecção real de Espanha. Vinte anos mais tarde, quando Rubens visita Espanha, entre 1628-1629, e se encontra com a obra, decide reformula-la e modifica uma série de detalhes. Decide mesmo aumentar o quadro em cima e na margem direita.
Até 1620 Rubens desenvolve dois estilos alternados, um pictórico, marcado pelos mestres italianos, com recursos a cores fortes e brilhantes, com apontamentos amarelos e vermelhos, e outro mais clássico, consistindo numa composição elaborada de cores frias. Considerado o pintor mais importante do barroco flamengo, Rubens, fosse qual fosse o tema ou a estrutura compositiva ou mesmo a utilização da cor, imprimia à obra o cunho de um grande colorista, a complexidade compositiva e a mestria de um magnífico desenhador, impregnando-a ainda com o seu estilo de vida alegre e livre.
“Adoração dos Reis Magos”, óleo sobre tela, pintado em 1609 para a Câmara de Amberes.
 
Fonte: Revista Caras
CarlosCoelho